(Continuação do número anterior)
Por portaria de 17 de Julho de 1835 do ministério da Guerra, satisfazendo um pedido da Câmara Municipal, concedeu-lhe licença “para se apearem os arcos das muralhas da cidade e ser empregada a pedra em obras de manifesta utilidade pública”. Em 21 de Outubro do mesmo ano, o Ministério da Guerra determinou, uma nova portaria, que se desse imediato cumprimento à primeira. Ordenou também o Governo, por uma portaria de 9 de Março de 1839, que fosse vendida parte da pedra das paredes do castelo e, por outra de 20 de Março do mesmo ano, que se vendessem a telha e os madeiramentos. O terreno do parque do castelo foi cedido à Câmara pelo governo, por portaria de 19 de Novembro de 1852, para nele se fazer um cemitério; tendo porém prevalecido o bom censo, não chegou a efectuar-se esse absurdo projecto. No mesmo local foi construído, em 1867, um edifício que se destinava a liceu mas veio utilizado para Escola do Magistério Primário; em 1919 foi ali instalado um posto radiotelegráfico do exército. Foi, portanto, no século XIX que o vandalismo dos albicastrenses, acoberto pela complacência e pela indiferença das entidades oficiais, promoveu inexoravelmente a destruição das suas relíquias históricas que, se hoje existissem, constituiriam uma valiosa e interessante curiosidade turística numa cidade em que não abundam as preciosidades artísticas nem as edificações monumentais. Os agentes atmosféricos também contribuíram para a ruína do velho castelo dos templários. Uma violenta tempestade que se desencadeou na noite de 15 de Novembro de 1825 fez desabar algumas paredes da alcáçova e desmoronou a porta da Vila. No principio do ano de 1936, as chuvas torrenciais causaram a derrocada da ultima torre que restava do castelo, no ângulo nascente norte. Foi feita a reconstrução das paredes dessa torre, pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em 1940. Todavia, não foi então feito, como era mister, um estudo prévio da reconstrução e a cidade assistiu indiferente a mais uma mutilação da sua velha fortaleza: Impensadamente considerada uma excrescência, não obstante ser coeva da fundação do castelo, foi totalmente demolida a antiga alcáçova, da qual ainda se podiam ver, em 1939, umas casas de cilharia ostentando na fachada principal duas janelas góticas geminadas e uma porta do mesmo estilo. E assim ficou implacavelmente restringida a umas pungentes ruínas, pelos ímpios iconoclastas indígenas com a cooperação das entidades oficiais e dos agentes meteóricos, uma das venerandas fortalezas medievais que os denodados Templários erigiram, com acrisolado desvelo, para defesa da fé e da independência da Pátria.
PS. O texto é apresentado nesta página, tal qual foi escrito na época.
Publicado no antigo jornal Beira Baixa em 1951
Autor. M. Tavares dos Santos
O Albicastrense
Sem comentários:
Enviar um comentário