domingo, maio 23, 2010

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - XXXI


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.
O texto está escrito, tal como publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.

Comentário do autor: Na sessão da Câmara realizada em 28 de Setembro de 1788 foi apresentada a lida uma carta do Secretario de Estado dos Negócios do Reino, Visconde de Vila Nova de Cerveira, datada de 11 do mesmo mês, comunicando que nesse mesmo dia, pelas quatro horas e meia da tarde, fora “Deus servido chamar á Sua Santa Gloria o Sereníssimo Senhor Príncipe do Brazil Dom José depois de muitos e católlicos autos de fervoroza resignação”. Os vereadores fizeram o que era costume:
Acta de 1788 … determinarão que logo fizessem todas as demonstrações de sentimento do estillo, tocandoce os sinos e rellogio os dias do estillo, e que nesta Cidade e termo se fizesse publico por pregoens Editaes e ordens que todas as pessoas ponhão e tragão luto seis mezes três riguroso, e três aleviado, e que as pessoas pobres tragão ao menos hum signal de luto, em demonstração de justo sentimento que deve ser geral pela falta de huma vida a mais precioza. E aquele que faltar será castigado a arbítrio.
Comentário do autor:
Nada menos do que castigados ao arbítrio dos senhores vereadores. Não o faziam por menos. E nesta sessão não se resolveu mais nada, apesar de haver vinte e dois dias que a Câmara não dava sinal de si. A sessão seguinte realizou-se no dia 7 de Outubro e lá nos aparece o carcereiro posto na rua a logo nomeado outro, que se chamava Manuel Silvestre Patinha. Não aqueciam o lugar os carcereiros, que em regra eram bons para o verão, porque eram frescos.
Nesta sessão deliberou-se ainda que do dia doze em diante “ficassem os alqueves coutada e que no mesmo dia despejassem todos os gados os mesmos alqueves”. E mais nada. Não estavam para se ralar os bons dos vereadores. No dia 22 de Outubro tornou-se a reunir-se a Câmara e a respectiva acta reza assim: “E logo determinaram que fazendosse a obra da Esquina da rua dos Peleteiros que faz fasse à rua dos ferreiros para que no dito citio da mesma rua fique ela direita para que sem embarasso passem as sejes e carros se dê deste conselho a metade da despeza que se fizer na mesma obra”. E pronto. O escrivão Aranha não teve mais nada que dizer, a não ser que ”por haver mais que despachar ouverão este auto por findo”.
É sem importância a deliberação; mas é bom notar que se chamava dos Peleteiros a rua a que, anos depois, começaram a chamar dos Paliteiros.
Dos Peleteiros é que se chamava, por estarem nela reunidos os operários que trabalhavam em peles. Dos Paliteiros era disparate, porque a indústria de palitos nunca existiu cá na terra. E a propósito:
Um cavalheiro que morou naquela rua, monárquico até à raiz dos cabelos enquanto houve Monarquia em Portugal, fez-se republicano “histórico” logo que apareceu a Republica e, para mostrar que o seu republicanismo era de raiz, logo que se reuniram as cortês constituintes, pediu como cego e conseguiu que a citada rua se chamasse das Constituintes.
Rua das Constituintes porque? Não seria de toda a conveniência que, em homenagem, à tradição, voltasse a chamar-se-lhe Rua dos?
E logo ali ao pé temos outra. A rua que se chamava dos Ferreiros, porque de facto antigamente nela trabalhavam os operários que à indústria de ferro se dedicavam, deu-se também o nome de Rua Alfredo Keil. Porque? Só se foi porque numa casa dela se faziam ensaios de uma banda que tocava a Portuguesa, a propósito de tudo e a propósito de nada.
Voltem a chamar-lhe Rua dos Ferreiros, que assim é que está certo. É assim que está certo e é assim que ainda hoje toda a gente lhe chama.
PS. António Ribeiro Cardoso interrogava-se em 1937, sobre as mudanças de nomes de algumas das velhas ruas do Castelo.
Até parecia que ele pressentia que mais tarde ou mais cedo, estas velhas ruas voltariam aos seus nomes de origem.
Alguns anos mais tarde, (década de 50) a autarquia albicastrense decidiu que as respectivas ruas voltariam aos seus nomes de antigamente, (
a rua das Constituintes voltou a chamar-se dos Peleteiros, e a rua Alfredo Keil voltou a chamar-se dos Ferreiros).
(Continua)
PS – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937.
O Albicastrense

2 comentários:

  1. Anónimo02:19

    Efeméride
    O governo está podre.
    O país está de rastos.
    O povo está na penuria.
    E, mesmo assim, paga a crise.
    E vocês, que fazeis?
    Acordai...Acordai...Acordai...
    Façam qualquer coisinha.
    Vá lá...
    O Sentinela da Noite

    ResponderEliminar
  2. Anónimo11:38

    EFEMERIDE É FABRIZIO
    QUÉ DELE ???????????????????????
    robin dos bosques

    ResponderEliminar

ANTÓNIO ROXO - DEPOIS DO ABSOLUTISMO - (12 "ÙLTIMA")

Última publicação do excelente trabalho que António Roxo publicou em antigos jornais da terra albicastrense.   “O Espaço da vida polític...