ACHEGAS PARA UMA MONOGRAFIA REGIONAL
“CASTELO BRANCO E O SEU ALFOZ”
“CASTELO BRANCO E O SEU ALFOZ”
(J. RIBEIRO CARDOSO)
(Continuação)
Veio de Lisboa alçada
de desembargadores a inquirir da proeza e condenou Manuel da Fonseca a ser
degolado em estátua, o que lhe não doeu nada, e a pagar 10 cruzados á família
de Dom Fernando de Meneses e 4 mil às famílias de dois criados dele, que
perderam a vida na bulha porca das duas famílias desvairadas.
Manuel da Fonseca foi
mais tarde indultado por Dom João IV, com restituição das suas honrarias, mas
proibido de viver em castelo Branco e em 7 léguas em redor.
Fixou residência em
Oledo onde tinha casa de avultados haveres. O castelo em si também não tem
história nem lenda a memorar feitos de valentia. Na guerra da sucessão, em 22 de
Maio de 1704, um corpo de exército franco-castelhano cerou a vila, que logo no
dia seguinte se rendeu. O invasor manteve-se na vila pelo espaço de 40 dias,
onde fez graves desacatos.
Dentro da Alcáçova
estava o Palácio dos Comendadores. Não sabemos notícias dele, senão a que nos
dá o Doutor Manuel Tavares Falcão no Tombo que organizou dos bens da Casa do Infantado,
em 16 de Outubro de 1753 e que reza assim:
O PALÁCIO DOS COMENDADORES
DE SANTA MARIA DO CASTELO DA VILA DE CASTELO BRANCO
“Medição e descrição do palácio dos comendadores de Santa Maria do Castelo da vila de Castelo Branco. Está o dito palácio fundado dentro do castelo da dita vila sobre um monte em cujas faldas, para a parte nascente, está situada a vila de castelo Branco.
Entrando pela porta principal da muralha do dito castelo, fica à mão direita junto da capela-mor da igreja de Santa Maria a porta principal do palácio,
que é de pedra de cantaria, e as suas portas de madeira chapeadas de ferro, tem a dita porta de altura 3 varas, e de largura 2 e meia, e à entrada desta está
um pátio que tem de comprimento 25 varas e 4 palmos, e de largo 15 varas e 4
palmos; à mão direita da entrada do dito pátio está um quarto com balcão para
onde se sobe por uma escada de pedra, de 12 degraus, e tem o dito quarto duas
portas em cima do dito balção, duas janelas na sua parede que caiem sobre o
pátio; e para a parte da vila tem viradas 3 janelas; era o dito quarto uma sala
grande, e se acha ao presente dividida em 4 quartos, dois são de telha vãn, e
os outros forrados de madeira.
Há debaixo do dito balcão um arco de pedra por onde se entra
para a loja que serve de cavalariça, e tem todo o dito quarto de comprimento 18
varas e 2 palmos, e de largo 6 varas e 1 palmo.
Há no dito pátio um jardim cercado de pedra de cantaria de
almofadas, que tem de largo 7 varas e 4 palmos, e de comprimento 9 varas e
meia; tem algumas árvores de espinho, e à roda seus jasmineiros. Fica o dito
jardim debaixo da galeria que o dito palácio tem sobre o dito pátio, que consta
de 4 janelas rasgadas.
À parte esquerda da entrada do dito pátio está uma cisterna com
suas guardas de pedra de cantaria, e por esta mesma parte cerca o dito pátio
uma parede em que está uma porta que vai para uma cerca detrás da igreja de
Santa Maria, que tem de circunferência 152 varas e 4 palmos, e fica toda tapada
com a parede da dita igreja pela parte por onde se entrava para a tribuna que
os comendadores tinham na mesma, e com a muralha. Dentro da dita cerca estão umas casas térreas, que serviam
antigamente de armazém para o tesouro e munições de guerra: estão ao presente
quase arruinadas, tem duas portas para a cerca, e de comprimento 19 varas e 4
palmos, e de largo 4 varas.
Por cima da porta da cerca há um patim de cantaria, do qual se
sob para a escada principal da pátio, que tem 26 degraus de pedra; e no cimo da
dita escada está outro patim coberto de forro de madeira, sustenta-se sobre 3 colunas. Na entrada há uma porta de 9 palmos de alto e 7 de largo por
onde se entra para um recebimento lajeado de pedra sobre a abobada, que
antigamente era descoberto, e consta que servia de cisterna, que tem 4 varas de
comprido e 3 de largo, no qual estão duas portas, e se desce pela da esquerda por
uma escada de pau para uma casa térrea em
que está uma chaminé e um forno; e pela outra porta se entra para a sala
da espera do palácio, que tem duas janelas, uma de assentos e outra rasgada
viradas para o nascente, e uma chaminé, tendo de comprimento 10 varas, e 5 de
largo.
Há nesta sala mais três portas, por uma das quais se entra para
um quarto que tem uma janela rasgada sobre o pátio; e deste quarto há uma porta
para outro que tem uma janela rasgada, e por ali se entra por uma porta para um
outro quarto com sua janela, e tem este 5 varas de comprimento, e 3 e 2 palmos
de largo.
Pela porta que está no canto da dita sala de espera, se entra
para uma outra sala com sua janela para o norte, tendo de comprimento 6 varas e
meia, e 5 e 4 palmos de largo. Tem esta duas portas, uma à direita, que dá
entrada para o ultimo quarto, e outra para a ultima sala com duas janelas, uma
para o norte e outra para o nascente, e uma chaminé, tendo 8 varas e meia de
comprimento e 5 de largo; e havendo ainda outra porta por onde se entra para um
quarto ladrilhado de tijolo, que tem 5 varas de comprido e outras 5 de largo.
Há no dito quarto três portas que dão entrada, uma para a
cozinha, que tem 6 varas de comprimento é 5 de largo, outra que dá saída para
a varanda do palácio, da parte do nascente, que é ladrilhada de tijolo com sua
guarda de parede pela dianteira, e pelos lados tem seus alegretes para flores,
tendo de comprimento 14 varas e 4 palmos, e de largo 4 ditas.
Estão os três quartos de que se fez menção formados sobre três
arcos de pedra, que estão ao presente tapados, á exceção de um, pelo qual se
entra ficando á mão esquerda um portado que dá entrada para uma casa que fica
debaixo do primeiro recebimento do palácio que é de abobada. Defronte do dito
arco está um portado de cantaria lavrada, grande e magnífico, por onde se entra
para uma sala que fica debaixo da de espera, que é toda ladrilhada, e no meio
tem um florão de azulejo, tendo de comprido 10 varas e 2 palmos, e de largo
quatro varas e dois palmos; e nesta sala está uma porta para o norte, por onde
se sai para um passeio ladrilhado de pedra miúda e cercada de parede com seus
alegretes de roda, pelo que mostra que foi jardim, o qual tem de comprido 12
varas e de largo 5.
No cimo da dita sala à direita da sua entrada está outra porta
por onde se entra para uma loja, que serve ao presente de tulha; e defronte da
casa de abobada há outra porta por baixo de um arco por onde se entra para a
tulha do azeite.
As paredes do palácio são todas mais altas do que os seus
telhados, e todas cercadas de ameias que forma a perspectiva da torre da
muralha. Na forma referida é, que está o sobre-dito palácio, e todo está
suficientemente reparado sem ameaçar em parte alguma ruína”.
Desta
famoso Palácio nada existe hoje a lembrar a sua existência, a não ser a prosa
do Juiz do Tombo.
(Continua)
O Albicastrense
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