domingo, janeiro 24, 2021

FREI ROQUE DO ESPÍRITO SANTO

No seguimento da publicação anterior sobre a pintura que repousa na reserva do nosso museu, pintura que  mostra dois dos maiores albicastrense de sempre, aqui fica um pouco da história de Frei Roque do Espírito Santo.

ROQUE MARTINS DA COSTA
(Fr. Roque do Espírito Santo)
“O Maior entre os Albicastrenses”

Nasceu em Castelo Branco no ano de 1520, filho primogénito de Dr. Francisco Martins da Costa e de D. Francisca de Goya. O cronista da Ordem dos Trinitários aponta-lhe desde a infância sucessos extraordinários, baseados no testemunho do arcipreste de Castelo Branco e outros. Destinara-se a cursar Direito Civil, alias, pouco do seu agrado, na Universidade de Salamanca, onde permaneceu alguns anos.
Voltando à sua terra natal e sendo o Pai nomeado procurador pela vila de Castelo Branco às cortes de Almeirim, convocadas por D. João III em 1544, acompanhou seu pai na viagem a Santarém.
Aproveitou então as ocupações do pai, para visitar esta vila onde se prendeu do Convento da SS. Trindade, segundo um cronista “por particular impulso do Espírito Santo” de quem tomou o sobrenome.
Com arreigada vocação religiosa, obteve as necessárias licenças dos prelados e professou neste convento, no mesmo ano de 1544, recebendo o hábito do provincial Frei. António Raposo, o ultimo prelado claustral, antes da reforma, ele próprio havia de ser provincial e suceder-lhe no governo da Ordem. 
Grande latinista, ensinou gramática no convento e, com tal proficiência, que não deve estranhar-se a sua escolha para dirigir o colégio universitário de Coimbra. O seu nome figura à cabeça dos fundadores deste colégio, para guarida dos monges estudantes de letras sagradas, na universidade; e governaria este colégio durante 10 anos.
Foi eleito provincial e exerceu considerável influência na reforma da ordem, em que colaborou pessoalmente, escrevendo o “ papel acerca da reforma que El-Rei D. João III intentava fazer na sua religião trinitaria”. Reedificou o convento de Sintra e à medida que crescia em humildade e penitencia, alastrava a fama de suas obras e virtudes. Sendo provincial e comissário geral dos cativos, habitava uma pobre cela, apenas tinha dois hábitos de pano branco, dois escapulários de linho a servirem de camisas. Castigava-se com severidade e ásperas penitências, votando toda a existência ao sacrifício e à santidade.
A primeira jornada que lhe foi confiada foi resgatar 300 cativos, em Argel. Embarcou para Ceuta com André Fogaça na nau do resgato, em 1557, sendo a jornada coroada do melhor sucesso. Da volta no ano seguinte, havia já falecido em Portugal o rei D. João III, mas subira a tão alto grau de prestigio que a simples indicação do seu nome como que aliciava as circunstancias propicias ao êxito de novas missões, alem desta redenção foi responsável entre 1559 e 1578 “Alcácer Quibir inclusivo”, por muitas outras, tendo percorrido meio mundo nesta sua missão de resgatar prisioneiros Portugueses.
Foi responsável por cartas diplomáticas do Cardeal D. Henrique, para os governadores de antigos territórios Portugueses no oriente. Foi nomeado visitador geral, com poder e autoridade, pela provisão régia de 29 de Março de 1570, subscrita pelo Cardeal - Infante. Voltava a África com cartas de D. Sebastião para fazer “hum resgate muito copioso”. No regresso do resgate de 1574, velejara por Gibraltar até desembarcar no Alentejo.
Sucedeu, nas proximidades de Serpa, esgotar-se a água do poço de S. António – O Velho, achando-se muitos repatriados na mais extrema necessidade; e foi então, segundo a lenda, que de pronto se encheu o poço de água cristalina e fresca. Remeteu avisos ao Rei D. Sebastião sobre o valor das tropas Marroquinas e as dificuldades de quem não dispõe dos meios necessários para alcançar o fim que pretende. Com perfeita lucidez e previsão, escreveu ao Rei: “Advirto a Vossa Alteza que o Xerife tem muita gente, está muito poderoso, e tem grande tesouro, e a gente de pé, e de cavalo para a guerra não tem conto. Estão na sua terra farta de mantimentos, armas e cavalos, que são os nervos da guerra. Os seus soldados gastão pouco, e na guerra eles lhe dá tudo livre. Nós temos poucos cavalos, pouca gente poucos mantimentos, e dinheiro para se continuar com esta guerra da África, porque as necessidades do Reino são muitas, e a gente pouco exercitada.
A todas as insistências de Frei Egídio e Diogo de Palma para que D. Sebastião desistir da batalha de Alcácer Quibir, D. Sebastião respondia: “Dali a dias se havia de ver com o Maluco”. Foi confessor régio de D. Catarina e de D. Sebastião, quando as ocupações lho permitiam, foi quatro vezes aleito provincial, a ultima das quais em 1586.
Governou a província Portuguesa dos Trinitários durante 12 anos. Entre as causas da sua morte parece não serem estranhos alguns desgostos com o governador do reino. Cardeal Alberto; Originados de enredos, que lhe disseram, de ser parcial do Infante D. António Prior do Crato, pretendente à Coroa. Perturbado por não ser ouvido e aceite a esclarecer a situação, renunciou ao cargo de vigário geral.
Viveu ainda seis meses, mas cansado já de anos e, muito mais, de penosos trabalhos, veio a falecer num sábado, a 15 de Maio de 1590.
Na sua morte, segundo o processo de beatificação, foi por todos aclamado com o nome de Santo e estando o seu corpo amortalhado na capela-mor, lhe foram beijar os pés. Se a vila de Castelo Branco não tivesse tantos varões notáveis, bastava para glória a reputação sua, a ver produzida este venerável Padre. 
Ficou sepultado no solo da capela-mor da Trindade em Lisboa.
Com o seguinte epitáfio:
O venerável padre Frei Roque do Espírito Santo, esplendor da religião. Consolador de cativos, ilustre pelo saber, depois de ter suportado muitos trabalhos a favor daqueles de que resgatou para cima de três mil, tendo rejeitado honras de mitras do reino, veio a falecer em paz a 15 de Outubro de 1590, com grande prejuízo dos cativos e da religião e com grande saudade de todos. 
O Albicastrense

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