No seguimento da publicação anterior sobre a pintura que repousa na reserva do nosso museu, pintura que mostra dois dos maiores albicastrense de sempre, aqui fica um pouco da história de Frei Roque do Espírito Santo.
ROQUE
MARTINS DA COSTA
(Fr. Roque
do Espírito Santo)
“O Maior
entre os Albicastrenses”
Nasceu em
Castelo Branco no ano de 1520, filho primogénito de Dr. Francisco Martins
da Costa e de D. Francisca de Goya. O cronista da Ordem dos Trinitários
aponta-lhe desde a infância sucessos extraordinários, baseados no testemunho do
arcipreste de Castelo Branco e outros. Destinara-se a cursar Direito Civil,
alias, pouco do seu agrado, na Universidade de Salamanca, onde permaneceu
alguns anos.
Voltando
à sua terra natal e sendo o Pai nomeado procurador pela vila de Castelo Branco
às cortes de Almeirim, convocadas por D. João III em 1544, acompanhou seu pai
na viagem a Santarém.
Aproveitou
então as ocupações do pai, para visitar esta vila onde se prendeu do Convento
da SS. Trindade, segundo um cronista “por particular impulso do Espírito Santo”
de quem tomou o sobrenome.
Com
arreigada vocação religiosa, obteve as necessárias licenças dos prelados e
professou neste convento, no mesmo ano de 1544, recebendo o hábito do
provincial Frei. António Raposo, o ultimo prelado claustral, antes da reforma,
ele próprio havia de ser provincial e suceder-lhe no governo da Ordem.
Grande
latinista, ensinou gramática no convento e, com tal proficiência, que não deve
estranhar-se a sua escolha para dirigir o colégio universitário de Coimbra. O
seu nome figura à cabeça dos fundadores deste colégio, para guarida dos monges
estudantes de letras sagradas, na universidade; e governaria este colégio
durante 10 anos.
Foi
eleito provincial e exerceu considerável influência na reforma da ordem, em que
colaborou pessoalmente, escrevendo o “ papel acerca da reforma que El-Rei
D. João III intentava fazer na sua religião trinitaria”. Reedificou o convento
de Sintra e à medida que crescia em humildade e penitencia, alastrava a fama de
suas obras e virtudes. Sendo provincial e comissário geral dos cativos,
habitava uma pobre cela, apenas tinha dois hábitos de pano branco, dois
escapulários de linho a servirem de camisas. Castigava-se com severidade e
ásperas penitências, votando toda a existência ao sacrifício e à santidade.
A
primeira jornada que lhe foi confiada foi resgatar 300 cativos, em Argel.
Embarcou para Ceuta com André Fogaça na nau do resgato, em 1557, sendo a
jornada coroada do melhor sucesso. Da volta no ano seguinte, havia já falecido
em Portugal o rei D. João III, mas subira a tão alto grau de prestigio que a
simples indicação do seu nome como que aliciava as circunstancias propicias ao
êxito de novas missões, alem desta redenção foi responsável entre 1559 e 1578 “Alcácer Quibir inclusivo”, por muitas outras, tendo percorrido meio mundo nesta
sua missão de resgatar prisioneiros Portugueses.
Foi
responsável por cartas diplomáticas do Cardeal D. Henrique, para os
governadores de antigos territórios Portugueses no oriente. Foi nomeado
visitador geral, com poder e autoridade, pela provisão régia de 29 de Março de
1570, subscrita pelo Cardeal - Infante. Voltava a África com
cartas de D. Sebastião para fazer “hum resgate muito copioso”. No regresso
do resgate de 1574, velejara por Gibraltar até desembarcar no Alentejo.
Sucedeu, nas
proximidades de Serpa, esgotar-se a água do poço de S. António – O Velho,
achando-se muitos repatriados na mais extrema necessidade; e foi então, segundo
a lenda, que de pronto se encheu o poço de água cristalina e fresca. Remeteu
avisos ao Rei D. Sebastião sobre o valor das tropas Marroquinas e as
dificuldades de quem não dispõe dos meios necessários para alcançar o fim que
pretende. Com perfeita lucidez e previsão, escreveu ao Rei: “Advirto a Vossa
Alteza que o Xerife tem muita gente, está muito poderoso, e tem grande tesouro,
e a gente de pé, e de cavalo para a guerra não tem conto. Estão na sua terra
farta de mantimentos, armas e cavalos, que são os nervos da guerra. Os seus
soldados gastão pouco, e na guerra eles lhe dá tudo livre. Nós temos poucos
cavalos, pouca gente poucos mantimentos, e dinheiro para se continuar com esta
guerra da África, porque as necessidades do Reino são muitas, e a gente pouco
exercitada.”
A todas as
insistências de Frei Egídio e Diogo de Palma para que D. Sebastião desistir da
batalha de Alcácer Quibir, D. Sebastião respondia: “Dali a dias se havia
de ver com o Maluco”. Foi confessor régio de
D. Catarina e de D. Sebastião, quando as ocupações lho permitiam, foi quatro
vezes aleito provincial, a ultima das quais em 1586.
Governou a província Portuguesa dos Trinitários durante 12 anos. Entre as
causas da sua morte parece não serem estranhos alguns desgostos com o
governador do reino. Cardeal Alberto; Originados de enredos, que lhe disseram,
de ser parcial do Infante D. António Prior do Crato, pretendente à Coroa. Perturbado por não ser
ouvido e aceite a esclarecer a situação, renunciou ao cargo de vigário geral.
Viveu ainda seis
meses, mas cansado já de anos e, muito mais, de penosos trabalhos, veio a
falecer num sábado, a 15 de Maio de 1590.
Na sua morte, segundo
o processo de beatificação, foi por todos aclamado com o nome de Santo e
estando o seu corpo amortalhado na capela-mor, lhe foram beijar os pés. Se a
vila de Castelo Branco não tivesse tantos varões notáveis, bastava para glória
a reputação sua, a ver produzida este venerável Padre. Ficou sepultado no
solo da capela-mor da Trindade em Lisboa.
Com o seguinte
epitáfio:
O venerável padre Frei Roque do Espírito Santo, esplendor da religião. Consolador de cativos, ilustre pelo saber, depois de ter suportado muitos
trabalhos a favor daqueles de que resgatou para cima de três mil, tendo
rejeitado honras de mitras do reino, veio a falecer em paz a 15 de Outubro de
1590, com grande prejuízo dos cativos e da religião e com grande saudade de
todos.
O
Albicastrense
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