sexta-feira, julho 22, 2022

A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES - (II)

(Por, Manuel da Silva Castelo Branco)

CADERNOS DE CULTURA

(Continuação)                 
Assento - 4 (Ibid., fl.28v)  
No dito dia (24.11.1549) eu, Jordão Fernandes clérigo, baptizei Bartolomeu filho legítimo de Vasco Gil e Francisca Pires. Padrinhos: João Roiz de Castelbranco e Diogo Gomes; Madrinhas: Violante Fernandes e Isabel Vaz. E, por verdade, assinei / Jordão Fernandes.
Assento - 5 (Ibid., fi. 209)
Aos 14 dias do mês de Dezembro de 1574, faleceu Antónia de Andrade filha que foi de António Vaz de Andrade e de Beatriz Vaz de Castelbranco. Não fez testamento, tem legítima e jaz enterrada dentro da igreja. Assento 6 (Ibid., fl.202v) - Aos 16 dias do mês de Julho de 1569, faleceu António Vaz de Andrade Fez testamento e jaz enterrado na igreja. 
Comentário: No Assento 4, aparece como padrinho do baptizado um João Roiz de Castelbranco (6), nome do famoso poeta albicastrense de “Cancioneiro Geral” de Garcia de Resende. Contudo, não se trata do próprio mas de um sobrinho e homónimo... O nosso Poeta havia falecido pouco antes de 1532, ficando os seus restos mortais depositados na capela - mor da igreja de Santa Maria. 
No Assento 5, figura efectivamente sua filha, D. Beatriz Vaz de Castelo Branco, casada com António Vaz de Andrade cavaleiro-fidalgo da Casa Real, o qual faleceu a 16.7.1569 (Assento 6), sendo sepultado na sua capela do Espírito Santo, depois extinta (7) ... Quanto a Beatriz Vaz, refere o Dr. Miguel Achioli da Fonseca que “está enterrada com seu pai e tios na capela maior de Santa Maria do Castelo”.
Ora, neste local só encontramos, actualmente, duas sepulturas com campas armoriadas pertencentes à família de D. Catarina Vaz Carrasco de Sequeira, mulher do poeta João Ròdrigues (8). 
Daqui, suponho que este foi depositado numa delas... Manuel Rodrigues Lapa, ao tratar das composições do «Cancioneiro Geral» dedicadas ao Amor triste, da despedida, acentua:- “A mais formosa composição sobre o tema é a conhecida Cantiga sua, partindo-se de João Roiz de Castelo Branco. O que impressiona nesta poesia, ademais do seu ritmo singular, é a ideia formosamente expressa do que o amor, naquela hora derradeira, todo conflui para os olhos que se cravam apaixonadamente tristes no objecto amado” (9). 
Em louvor do nosso Poeta, aqui evocamos a sua celebrada composição.  "Senhora, partem tão tristes Meus olhos por vós, meu bem, Que nunca tão tristes vistes Outros nenhuns por ninguém. Tão tristes, tão saudosos, Tão doentes da partida, Tão cansados, tão chorosos, Da morte mais desejosos Cem mil vezes que da vida. Partem tão tristes os tristes, Tão fora d’esperar bem, Que nunca tão tristes vistes Outros nenhuns por ninguém". III 
O mais antigo Monumento sepulcral na igreja de Santa Maria de Castelo Assento 7 (Ibid.,fl. 189v) - Aos 9 dias do mês de Julho de 1564, faleceu Maria de Siqueira. Fez testamento e jaz enterrada no moimento dentro da igreja. Assento 8 (Ibid., fl.400v)
Aos 25 dias de Abril de 1597, faleceu Baltazar de Siqueira e jaz sepultado no moimento levantado que está dentro desta igreja de Santa Maria. Fez testamento e sua mulher, Beatriz Pais, é testamenteira. Assento 9 (S1- 2M, fl.238) - Frei António Estaço, capitão de cavalos e cavaleiro da nossa Ordem, faleceu em o mesmo dia que sua mãe (a 17.11.1663) e está enterrado em o túmulo dos leões. 
Comentário: 
O mais antigo monumento sepulcral, de que há notícia na igreja de Santa Maria do Castelo, aparece designado nestes registos por “o moimento” ou “moimento levantado” e, ainda, pelo “túmulo dos leões”, visto assentar sobre 3 de pedra. Consistia num caixão de pedra, com 15 palmos de comprimento por 6 de alto, suportado pelos 3 leões e situava-se no meio do corpo da igreja, à parte direita, junto ao púlpito e abaixo da porta travessa.
Pertencia à família do ilustre albicastrense D. Fernando Rodrigues de Sequeira (1338-1433), cavaleiro de Aljubarrota, Mestre da Ordem de Avis, Regente e Defensor do Reino enquanto D. João I esteve fora dele à conquista de Ceuta (1415). Ali se haviam depositado os restos mortais de sua mãe D. Maria Afonso e da avó desta, chamada D. Estevaínha; e, durante vários séculos, seria a última jazida dos descendentes do Mestre por via de sua filha D. Brites Fernandes de Sequeira, entre os quais D. Maria e Baltazar de Siqueira, referidos nos Assentos 7 e 8. A partir de finais do século XVI, os morgados desta geração passaram a viver noutras povoações (Proença-a-Nova e Rosmaninhal), ficando o mausoléu a um ramo dela, encabeçado no Dr. Simão de Oliveira da Costa (1604-1673), que ali mandou colocar novamente o seguinte letreiro: (11), 
Aqui jaz Ia Madre de Fernão Roiz de Siqueira Mestre da Cavalaria de Aviz Nele seriam ainda depositados mais alguns membros desta família, como por exemplo: - Frei António Estaço da Costa, em 17.11.1663, conforme consta do Assento 9 e assinalava o epitáfio gravado numa pedra, com 5 palmos de comprido e 2 de largo, metida na parede da igreja, por cima da urna: Aqui está sepultado o capitão de cavalos António Estaço da Costa Cavaleiro da Ordem de Cristo ano de 1663. - P. Martinho de Oliveira da Costa, arcipeste do distrito de Castelo Branco, em 28.12.1691 (SI - 3M, fl. 230v). - P. Matias de Siqueira da Costa, tesoureiro da igreja de Santa Maria, a 9.2.1735 (S1-i4M, fl. 146v). Em 1753, já o túmulo fora demolido “pela indecência e deformidade que resultava da ruína que lhe tinha causado a diuturnidado de tempo”(12), conservando-se apenas a última lápide; mas, actualmente, nada resta desta significativa memória do passado... IV - A «Peste pequena» em Castelo Branco (1600 - 1602).
(Continua).                                                
                                                 O ALBICASTRENSE

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