sexta-feira, julho 29, 2022

A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (IV)


Por, Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
Assento 12 (S1 - 10, fl. 39)
Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624, mataram o senhor D. Pedro de Meneses, filho do senhor D. António de Meneses, comendador desta vila e seu alcaide-mor. Morreu duma espingardada na Costeira, ao fundo do chão que foi de Pero Go atiraram pela uma hora... Deu a alma a Deus, foi confessado e ungido, não fez manda. 
Ao dia seguinte, o levaram a enterrar ao mosteiro de Santo António e, no dia seguinte depois do seu enterro, lhe disseram missa de presente e um oficio de 9 lições por sua alma os padres de Santo António e os de Nossa Senhora da Graça; e, ao outro dia, lhe fizeram os padres seculares (todos os que acharam presentes na terra) outro oficio e, por verdade, assinei / Frei Martim Dias Caldeira.
Assento 13 (Ibid., fl. 39v)
Ao derradeiro dia do mês de Abril de 1624, mataram Manuel de Matos e, segundo se disse, morreu de uma espingardada em companhia do senhor D. Pedro, cujo criado era. Foi confessado e ungido e morreu de morte apressada; não fez manda e jaz enterrado em Santo António.  
Disse-se-lhe missa de presente ao dia seguinte e, por verdade, assinei. / Frei Martim Dias.
Comentário.
Assim finalizaram tragicamente as aventuras «galantes» em que D. Pedro de Meneses se envolvera, quer com raparigas solteiras quer com mulheres casadas da vila, sem atender ao seu estado e condição social. D. Pedro, filho 2° de D. Constança de Távora e D. António de Meneses alcaide-mor e comendador de Santa Maria de Castelo Branco, vivera os primeiros anos na corte e, depois, andara embarcado nas Armadas, mas viera encontrar aqui o ambiente propício para satisfazer as suas inclinações «sentimentais» pelo sexo oposto... 
Com efeito, D. Pedro era ainda novo, usava o mesmo nome de seu 5° avô, o célebre conde de Viana e Vila Real (1° Capitão de Ceuta no reinado de D. João I) e, a princípio, muitos desculpavam-lhe os caprichos, sentindo-se honrados com a sua convivência ou gratos pela generosidade que demonstrava. Em breve, porém, começaram a tornar-se notórias e mal vistas algumas das suas aventuras amorosas, em especial as que houvera com D. Ana de Lucena e D. Ana de Almeida.
A primeira pertencia a uma numerosa família de cristãos - novos, sendo casada com Duarte Rodrigues também da mesma nação; na ausência deste e sem o consentimento dela, sua irmã D. Isabel de Lucena facultava a D. Pedro a entrada da casa, favorecendo assim os seus «ilícitos e deshonestos amores» ... (15)
A segunda era irmã de Simão da Silva de Almeida e ambos filhos do doutor João de Almeida, desembargador da Casa da Suplicação, que servira de provedor da Misericórdia (1615-1616) e juiz de fora de Castelo Branco; D. Pedro «conversava» com ela aproveitando a complacência do boticário Manuel Jordão e de sua mulher D. Maria Lopes, por cuja residência penetrava na contígua do pai de D. Ana « tirando umas tábuas do sobrado»... (16)
(Continua)
O ALBICASTRENSE

2 comentários:

  1. Decifrar aqueles hieróglifos já é uma ciência, mas saber os estratagemas do D Pedro para se encontrar com as amantes... é a cusquice elevada à categoria de ciência! Com isto podemos aferir a importância dos mexericos, dos alcoviteiros e coscuvilheiros. Pessoalmente prefiro a História que inclui estas "vergonhas" e a torna mais perto de quem a estuda. Talvez por isso, o prof José Hermano Saraiva tivesse tanto sucesso com os seus programas de divulgação histórica... mas, convenhamos, ele abusava e inventava largo!

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  2. O que era entendido como morte apressada? No caso do D Pedro, pelos vistos, ele já estava morto quando foi confessado (já tinha dado a alma a Deus) e no caso do Manuel de Matos... muito provavelmente o último estertor foi entendido como confissão, não? Afinal, valia tudo em nome do cristianismo!

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