quarta-feira, janeiro 28, 2009

Castelo Branco na História - XLVI

(Continuação)
Em torno do recinto, que se ajardinou com canteiros de buxo no gosto italiano do século XVIII, foram colocados bancos de cantaria aguais aos existentes na rotunda do bosque. As paredes, divididas em painéis por pilastras de cantaria, foram revestidas de azulejos artísticos com motivos da região (monumentos desaparecidos) e com as efígies dos Bispos D. João de Mendonça e D. Vicente Ferre da Rocha. A reconstrução do muro de suporte de terras do socalco do jardim a edificação da escadaria que lhe dá acesso, do lago, da fonte e dos muros laterais do recinto, o ajardinamento deste e a construção do gradeamento e da porta férrea executaram-se no ano de 1936 por administração directa do vereador Joaquim Martins Bispo, segundo um projecto e a direcção técnica do autor destas despretensiosas e desataviadas crónicas. Transcreve-se a Memoria Descritiva e Justificativa do Projecto:
“ O jardim Municipal de Castelo Branco é um curioso e belo exemplar dos graciosos e característicos jardins concebidos no gosto italiano do século XVIII.
“Anexo ao antigo Paço Episcopal e outrora logradouro dos bispos da extinta diocese de Castelo Branco, não possui, como jardim particular que era, uma entrada condigna pela rua pública, sendo feito actualmente o acesso dos visitantes por uma entrada indirecta e deficiente.
“ Sendo um ponto obrigatório de vista de todos os excursionistas que passam pela cidade e sendo estima publico do por todos os albicastrenses como uma preciosidade artística, o Jardim Municipal, desde que passou a ser do domínio publico carecia de uma entrada que patenteasse o culto pela tradição e o carinho da cidade pelo seu — infelizmente diminuto património artístico.
“ Nesta ordem de ideias, a comissão administrativa da Câmara Municipal de Castelo Branco, cônscia do valor artístico do jardim municipal e interpelando o desejo dos munícipes, deliberou mandar proceder à elaboração deste projecto com o fim de por termo a um deplorável abandono a que durante alguns anos esteve votado o jardim que constitui, por assim dizer, a sala de visitas da cidade, devendo aproveitar-se para pátio de entrada um recinto pejado de entulhe que prejudica altamente a estética do conjunto formado pelo jardim e pelo bosque fronteiro, observado, numa admirável perspectiva, do patim superior da Escadaria dos Reis.
“O entulhamento do recinto deve-se ao facto de se haver planeado, há poucos anos, o seu nivelamento com o jardim situado num plano superior e o seu ajardinamento como continuação do mesmo jardim, baseando-se tal projecto na suposição de que ele não havia sido concluído e de que seria esse o plano da sua conclusão.
“ A existência de parapeitos ladeados por assentos de pedra no coroamento do muro induziu a essa presunção. Todavia, um estudo do assunto, baseado em atentas observações do local, demonstrou facilmente que tal suposição era errónea. Com efeito, os vestígios do reboco nas paredes interiores do recinto, a continuação do Passadiço sobre o mesmo com arcos actualmente entaipados, a existência de uma porta que dava acesso da rua para o recinto hoje também entaipado, os vestígios de uma casa e de uma calçada num plano inferior ao do jardim e ainda os restos de um muro de vedação sobre o muro de suporte de terras que limita o antigo jardim com um vão de porta e uma escadaria para o recinto inferior, são factos observados que provam insofismàvelmente que não houve primitivamente a ideia de prolongar o jardim, no mesmo nível, além dos limites que lhe foram estabelecidos na sua construção.

(Continua)
PS . O texto é apresentado nesta página, tal qual foi escrito na época.
Publicado no antigo jornal "Beira Baixa " em 1951
Autor. Manuel Tavares dos Santos

O Albicastrense

2 comentários:

  1. Anónimo22:11

    Os dados das mais recentes investigações históricas sobre o Jardim do Paço Episcopal contrariam algumas das ideias apresentadas e defendidas por Tavares dos Santos, tanto neste texto, como noutros publicados no jornal Beira Baixa, ou ainda no seu "Castelo Branco na História e na Arte", obra recopiada eté à exaustão, facto que tem permitido a multiplicação de dados incorrectos sobre alguns dos monumentos mais emblemáticos da cidade de Castelo Branco. A existência de fontes contaminadas na historiografia local e a falta de verdadeira investigação histórica verificada até há escassos anos, tem contribuído para a repetição de erros evitáveis e facilmente depuráveis, se fosse o rigor o preceito a presidir e orientar determinadas publicações, pretensamente de carácter histórico. Reconhecendo a importância de uma obra datada como é "Castelo Branco na História e na Arte",no quadro da historiografia local, não pode deixar de se sublinhar alguma falta de rigor científico.

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  2. Caro Pedro rego.
    Antes de mais o meu bem-haja pelo seu esclarecimento.
    Quanto á falta de algum rigor cientifico no livro de Manuel Tavares dos Santos… apenas posso dizer-lhe que os meus conhecimentos nesta área, não são suficientes capazes para poder discutir este assunto consigo.
    Posso porém, dizer-lhe… que bom teria sido se em vez de um Manuel Tavares dos Santos tivéssemos tido em Castelo Branco dois ou três como ele.
    Se reparar bem… foram quase sempre as pessoas de fora que nos ensinaram a gostar da nossa terra.
    Um abraço

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