O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Comentário
Curiosamente,
ele irá obter mais tarde idêntica mercê de Filipe II para dote do casamento de
sua filha D. Joana da Costa (Lisboa, 09.06.1627)
(63). No Assento 48, trasladamos o registo de baptismo (em 14.10.1567) de Francisca de Sotomayor, filha de Manuel de
Valadares Sotomayor, Moço Fidalgo da C. R. e juiz dos órfãos de Castelo Branco
por sua mulher e prima D. Perpétua da Fonseca. D. Francisca casaria na igreja
de S. Miguel, a 8.8.1596, com João Mendes
de Paiva, formado em Cânones pela Univ. Coimbra (15.7.1577), provedor da Misericórdia (1609-10) e juiz dos órfãos de Castelo Branco, que levou em dote
sua mulher. Atendendo aos serviços prestados na India por seu irmão João de
Valadares Sottomayor, D. Francisca teve ainda a mercê régia de uma viagem da China para a
pessoa que a desposasse (Lisboa,
11.3.1600) (64).
Por Manuel da Silva Castelo Branco
"O
DOTE - (I)"
(Continuação)
Assento 46 - Gaspar Mouzinho Magro, desta vila e desta
freguesia, faleceu em 29 de Abril de 1685 e está sepultado no convento de Santo
António. Fez testamento e instituiu capela na igreja de Santa Maria, com missa
quotidiana.
Assento 47 - Aos 30.12.1609, se receberam em a igreja de
S. Miguel por marido e mulher, na forma do Sagrado Concílio Tridentino, António
de Brito Homem e Luísa da Costa. Foram testemunhas António Furtado da Costa,
António de Azevedo e Paulo Rodrigues Cardoso e assinei/Manuel de Araújo.
Assento 48 - Aos 14
dias do mês de Outubro de 1567, baptizei Francisca filha legítima de Manuel de
Valadares e Perpétua da Fonseca. Foram padrinhos o doutor Diogo d’Afonseca e
Águeda de Valadares.
Assento 49 - António Feio da Maia e Almeida, natural da
vila de Abrantes e viúvo de D. Joana Maria Temudo de Almeida, filho de João
Correia Mazagão e de sua mulher D. Maria Feio de Almeida, e D. Oriana Maria
Brígida de Brito e Fonseca, natural desta vila de Castelo Branco e desta
freguesia, filha de José de Mesquita Martins da Fonseca e de sua mulher D.
Maria Paula da Cunha Freire, se receberam por palavras de presença nesta igreja
de S. Miguel, na minha presença (o
vigário Frei Manuel Rodrigues Corugeiro), em os 29.10.1731, sendo primeiro
feito o que determina o Sagrado Concílio Tridentino e Constituições deste
Bispado. Testemunhas: António de Azevedo Pimentel Galache e Luís da Cunha Corte-Real, de que se fez este termo
que assinei com as testemunhas, dia, mês e era “ut supra”/o vig° Frei Manuel
Rodrigues Corugeiro/Luís da Cunha Corte - Real/António de Azevedo Pimentel.
Assento 50 - A
8.2.1572, receberam-se em face da igreja Gomes de Souttomayor, filho de Gomes
de Souttomayor e Bárbara Madeira, natural de S. Maninho dos Chãos (bispado de
Lamego) com D. Beatriz da Cunha, filha de Sebastião da Cunha e de D. Catarina,
desta freguesia.
Assento 51 - Ao
primeiro dia do mês de Abril de 1560, baptizei Manuel filho legítimo de Mateus Lopes e de Maria Sequeira. Padrinhos: Francisco de Valadares, Catarina
de Sousa e Beatriz Pereira, e assinei / Domingos Tomé.
Comentário
Quando o
destino da mulher dependia em certa medida do seu casamento e do respectivo
contrato de esponsais, o dote representava muitas vezes para ela (e para o futuro cônjuge) mais que as
suas qualidades pessoais, incluindo a própria beleza e nível social... Por tal
motivo, alguns beneméritos legavam as suas fazendas para o estabelecimento e
concessão de dotes ás raparigas mais desprotegidas e carenciadas de recursos,
que assim poderiam encontrar marido com maior facilidade e construir um lar
cristão... Entre eles, conta-se Gaspar Mouzinho Magro baptizado a 20.10. 1610
na igreja de Santa Maria e filho de D. Helena Pires e António Magro Mouzinho,
da nobre geração deste apelido oriunda de Castelo de Vide. Na terra natal
serviu vários cargos da governança e por ela foi procurador às Cortes de 1669.
Não tendo
descendência do seu casamento com D. Catarina Vilela Leitão e possuindo
avultados bens, instituiu uma capela na igreja de Santa Maria (57), cuja administração
confiou à Confraria de Nossa Senhora do Rosário
(por disposição testamentária de 29.8.1684 e codicilio de 28.4.1685) para
do seu rendimento se distribuírem dotes a 5 raparigas pobres daquela freguesia,
que fossem casadoiras, de boa vida e costumes mas sem raça de cristãos-novos
(58)...
A pedido
dos mordomos da dita Confraria, a importância de 12000 réis, correspondente a
cada dote, foi aumentada para 24000 réis por breve pontifício de 7.5.1803, com
o fundamento de ser então menor
o valor da moeda e com ela não se poderem adquirir, como em 1685, os artigos suficientes para o princípio da
vida de um casal pobre; passaram também para 12 o número de órfãs contempladas.
A história
da Confraria de Nossa Senhora do Rosário e, em particular, os esforços que desenvolveu
para dar cumprimento ao legado instituído por Gaspar Mouzinho Magro foram
tratados minuciosamente por vários Autores, entre os quais o do Dr. José Ribeiro
Cardoso (59) e Manuel Tavares dos Santos (60), para cujos trabalhos remetemos
os leitores interessados...
O dote
constituía, pois, o conjunto de bens próprios com que a mulher entrava para a sociedade conjugal. Estes bens assumiam as mais diversas formas: rendas,
dinheiro, casas e fazendas, capelas e morgados, tenças, padrões e ofícios,
juros, foros, etc, doados, instituídos ou legados pelos pais, familiares e até
estranhos e, muitas vezes, estabelecidos ou confirmados por mercês régias em remuneração
de serviços... Assim, no Assento 47 vemos o registo do casamento celebrado a
30. 12. 1509 entre António de Brito Homem e D. Luísa da Costa, que levou em
dote o oficio de tabelião do público, judicial e notas da Vila de Castelo Branco. Este fora
exercitado com satisfação e durante mais de 25 anos pelo pai da noiva, Paulo de
Parada, que alcançara licença de Filipe II para o poder renunciar em favor da
pessoa que casasse com sua filha (Lisboa,
8.1.1605) (61). E, efetivamente, António de Brito Homem acaba por ser
encartado no dito oficio (Lisboa,
1.10.1615), depois de apresentar provas do seu recebimento “à face da igreja e na forma do Sagrado Concílio
Tridentino“, demonstrando também que possuía aptidão e suficiência para o
servir.
No Assento
49, acha-se assinalado o registo de casamento de D. Oriana Maria Brígida de
Brito da Fonseca, nascida a 10.5.1702 e descendente de uma nobre família albicastrense. União
celebrada a 29.10.1731 na igreja de S. Miguel e ajustada pela mãe e irmão da
noiva (a saber, D. Maria Paula da Cunha Freire
Corte-Real, já viúva e António de Mesquita Martins da Fonseca Barreto, herdeiro
da Casa) com o futuro cônjuge, António Feio da Maia e Almeida, cavaleiro da
Ordem de Cristo e natural da vila de Abrantes (65), onde o casal iria fixar
residência.
Com efeito,
o contrato de esponsais fora lavrado a 25.9.1731, em Castelo Branco, nas “casas honradas” (66) da família da noiva,
que se comprometeu a dar-lhe o dote de 600.000 réis em dinheiro de contado,
incluindo-se nesta importância os 300000 réis do legado da sua tia D. Leonor de
Mesquita; mas D. Oriana renunciava às legítimas que poderia haver quer do pai
como da mãe, salvo a herança dos avós maternos (Diogo Freire Corte Real e D. Brígida de Almeida), cujos inventários
ainda se não tinham executado. Ficaram estabelecidas, igualmente, as arras que António Feio dispunha a favor da futura noiva, a forma de repartição dos bens
por falecimento de qualquer deles, etc. (67)
Porém, o
destino não favoreceu tão auspicioso enlace, que alguns poetas celebraram em estrofes
inspiradas. Efectivamente, D. Oriana não teve filhos e, sendo já viúva,
recolheu-se ao Conservatório de Santa Maria Madalena, na Rua do Cavaleiro, onde
viria a falecer a 5.7.1775; e, amortalhada no hábito de Nossa Senhora do Carmo,
de cuja Ordem era professa, ali foi sepultada na capela do mesmo Instituto, que
preferiu ao jazigo da família (“o
carneiro dos Fonsecas”), erigido no convento de Nossa Senhora da Graça pelo
Dr. Diogo da Fonseca, seu 4° avô.
Mas os dotes eram também indispensáveis para o enxoval e mantimento das raparigas que desejavam professar nos conventos, quer por devoção quer para ali ficarem “resguardadas dos perigos do mundo”.
Mas os dotes eram também indispensáveis para o enxoval e mantimento das raparigas que desejavam professar nos conventos, quer por devoção quer para ali ficarem “resguardadas dos perigos do mundo”.
(Continua)
O Albicastrense
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