segunda-feira, agosto 08, 2016

CADERNOS DE CULTURA - "MEDICINA NA BEIRA INTERIOR". (XX)

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
 Por Manuel da Silva Castelo Branco

UM TESTAMENTO SATISFEITO... 17 ANOS DEPOIS!..
(Continuação)
Assento 45
- Aos 7.5.1678, faleceu o Governador das Armas desta província Gil Vaz Lobo. Fez testamento na maneira seguinte:
- Deixou que, sendo amortalhado no hábito de Santo António, fosse enterrado na ermida de S. Gregório, anexa a esta igreja, para o que deixava de esmola à dita Confraria 10 000 réis; e, quando fosse tempo, lhe transladassem os ossos para a capela (que deixava se fizesse da invocação da Senhora do Carmo, na sua quinta de Odivelas), aonde, quando fossem levados, se lhe fizesse um ofício com missa cantada.
Deixou que lhe dissessem por sua alma 1000 missas (e, destas, lhe dariam 200 em altar privilegiado), pelas quais se daria a esmola costumada.
Deixou mais 500 missas pelas almas de seu pai e mãe; outras 500 pelas de seus avós; mais 200 pelas penitências mal cumpridas (em que entrariam as dos Defuntos da Ordem de Cristo, de que era cavaleiro).
Deixou que, no dia do enterro e sendo horas, lhe dissessem que era cavaleiro. Deixou que, no dia do enterro e sendo horas, lhe dissessem todos os sacerdotes, que se achassem presentes, missa por sua alma e, por esmola, um tostão (e que entrariam estas, de corpo presente, no número das 1000 que deixava por sua alma); e que lhe fizessem um ofício conforme a Constituição do Bispado e, no dia do enterro, dessem a cada pobre que o acompanhasse um tostão e uma vela.
Deixou por universal herdeira a sua irmã, a senhora D. Madalena da Silveira (casada com o Senhor Manuel de Miranda Henriques) sendo viva (e, não o sendo, a seu filho mais velho) de toda a fazenda que se achar ser sua e livre, depois de todos os legados cumpridos; e, por testamenteiro, a seu cunhado Manuel de Miranda Henriques, a José Ramalho, ao capitão Manuel José do Vale, ao Dr. Luís de Valadares corregedor da cidade da Guarda e ao vedor-geral António Cardoso. E declarou que as missas, que deixava, as mandassem seus testamenteiros dizer por quem quizessem. E, para constar, fiz este termo que assinei/O vig° encomendado António Gomes Assores.

Comentário
Gil Vaz Lobo, cujo assento de óbito acabamos de transladar, nasceu em Lisboa no 1° quartel de Seiscentos, sendo filho de Gomes Freire de Andrade e D. Luísa de Moura. Desde o dia da Aclamação, em que interveio, começou a destacar-se na carreira militar e ali atingiria os mais altos postos e distinções. (53) Em 10.5.1669, o Príncipe - Regente D. Pedro (futuro rei D. Pedro II) nomeia-o Governador das Armas da Província da Beira, cujos dois Partidos (Riba Coa e Penamacor) se haviam então reduzido a um só governo. (54)
No exercício deste cargo, assistiu por largos períodos em Castelo Branco, onde foi também provedor da Misericórdia (1670/73) e mandou fazer o respectivo “Tombo das fazendas, prazos e foros”, conhecida vulgarmente pelo “Tombo de 1670”, embora iniciado a 26.7.1671.
Aqui faleceu a 7.3.1678 e, de acordo com o seu testamento, ficou sepultado na ermida de S. Gregório (actual capela de Nossa 29 Senhora da Piedade), ao meio da capela-mor, onde ainda vemos uma campa de pedra, com 9 palmos de comprido e 3 de largo, tendo gravado o seguinte letreiro:

AQUI ESTÁ DEPOSITADO O CORPO
DE GIL VAZ LOBO GOVERNADOR DAS
ARMAS QUE FOI DE AMBOS OS PARTIDOS
DESTA PROVÍNCIA DA BEIRA HÃO-SE
DE TRANSLADAR OS SEUS OSSOS PARA A SUA
CAPELA DE NOSSA SENHORA DO MONTE
DO CARMO QUE MANDOU SE FIZESSE
NA SUA QUINTA DE ODIVELAS E FALECEU
EM SETE DE MARÇO DE 1678.


Tanto nos tombos de 1706 e 1753 da comenda de Santa Maria do Castelo como em diversos trabalhos monográficos sobre Castelo Branco, aparece referida esta lápide, mas só agora podemos acrescentar que, efectivamente, os restos mortais de Gil Vaz Lobo se transladaram para a capela de Nossa Senhora da Conceição, erigida na sua Quinta de Odivelas. Porém, tal disposição testamentária seria satisfeita 17 anos depois da morte do testador, a 29.10.1695, conforme nos revela D. Frei Flamínio de Sousa (século XVIII). (55)
(Continua)
O Albicastrense

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