O TANQUE QUE JÁ FOI
ENTERRADO DUAS VEZES.
Com
as obras a terminarem no chafariz de São Marcos, resolveu o albicastrense
passar por lá para entrevistar quem por ali andasse na passeada a mirar as obras.
A
primeira pessoa que me apareceu pela frente foi o “Ti Queixinhas”, albicastrense que passa a vida a queixar-se de tudo
e de nada. Ao ver-me, aproximou-se sorrateiramente e disparou:
- O
gajos só podem estar insensatos da cachola, então desenterram o tanque e depois
voltaram a enterra-lo? Será que eles endoidaram e ainda não deram por isso!?
Por detrás de mim alguém gritava: "rua com eles, rua com eles, rua com eles!" Voltei-me e dei de caras com o “Ti Manel
Cangalheiro”, figura importante no largo e proprietário da Agência Funerária; "Uma Porta Aberta para o Céu".
-
Vossemecê já viu bem o que eles fizeram? - Então não é que desenterraram o
cadavérico tanque e não me contrataram para lhe fazer novo enterro! – Esta
malta é toda interesseira, só dão trabalho aos da cor deles.
Ainda
o “Ti Manel Cangalheiro” não se tinha
calado, já a “Rosa Viçosa”, florista com loja aberta no largo e muito "bem-amada" entre os seus moradores (eu que o diga), gritava para
quem a quisesse ouvir.
- Os
malandros desenterraram e voltaram a enterrar o pobre desgraçado, sem me dizerem
nada! O pobrezinho não teve direito a uma palma, coroa ou um simples raminho de
flores, nunca vi enterramento mais desconsolado.
Perante
toda esta caldeirada de insatisfação, confesso que já não sabia para onde me
virar e o que dizer, quando de repente o “Ti
Queixinhas” aparece a baralhar ainda mais a contenda.
- Esta
malta não vale nada! Eles que se cuidem, que na próxima vou votar na oposição.
Para
baralhar ainda mais, eis que aparece o “Ti
Alfredo”, pessoa com café aberto no largo, de imediato estabeleceu ordem no areal da discussão.
-
Chega, Chega, Chega! – Os malandros não quiseram saber de nós, mas a partir de
agora, nós também não queremos saber deles.
Zé
Castanha, mecânico com oficina no largo, entra na discussão e estrebucha raios
e coriscos contra quem decidiu o que decidiu, propondo a criação de uma
comissão parlamentar (perdão! Do largo…),
para inquirir o enterro do tanque.
Quando
tudo parecia estar em vias de acalmia perante a proposta do “Zé Castanha”, eis que emerge de novo o “Ti Alfredo” gritar.
- Chega,
Chega, Chega… isto só lá vai com o manda abaixo dos malandros que enterraram o
nosso tanque.
Rosa
Viçosa, mulher que sempre pensou pela sua cabeça e não pela dos outros,
levantou a voz e exclamou bem alto:
- Chega uma PORRA! Aqui não chega nada e quando chega, é o que eles querem e não o que nós desejamos.
O “Ti Manel Cangalheiro” farto de tanta prosa
e nenhum defunto, propôs de imediato que fossem ao café do Alfredo matar a sede, pois assim sempre podia alguém esticar as
botas de tanto embeber briol e ele ganhar algum.
O ALBICASTRENSE
Álvaro Barreiros
ResponderEliminarVou lá mostrar o meu desagrado todos os dias e as meninas já nem me podem ver...
(Comentário feito no facebook)
Que pena haver tão pouca gente a fazê-lo.
EliminarAbraço
Júlia Bispo
ResponderEliminarNesta cidade fazem o que querem e lhes apetece, infelizmente a gente de mente iluminada não percebem nada, só betão.
(Comentário feito no facebook)
Carlos Boavida
ResponderEliminarSeria para rir se não fosse trágico. Não o reenterrar do tanque, mas os comentários à obra por quem ali mora, que só reclama dos lugares de estacionamento perdidos.
Na verdade a situação para maioria daquela gente resume-se a isso.
(Comentário feito no facebook)
Claro que é trágico, amigo Carlos Boavida!
EliminarMas muito mais trágico seria, se passássemos ao lado de toda esta tristeza sem gozarmos com a nossa letargia para combater este tipo de desgraças.
Um triste realidade a que nós albicastrenses infelizmente não somos capazes de fazer frente.
Abraço
Carlos Boavida
EliminarNisso concordo plenamente.
É necessário efectivamente chamar a atenção para este tipo de situações. Por meritório que seja a intervenção, foi muito aquém do que seria expectável, pelo menos do ponto de vista da leitura da estrutura do tanque.
Esperemos que daqui a uns anos não esteja novamente ao abandono, como até há pouco tempo, com carros estacionados quase dentro do tanque. Esperemos também que ninguém caia no seu interior.
(Comentário feito no facebook)
ResponderEliminarJúlio Vaz de Carvalho
Oh! Amigo Veríssimo, o texto do Blog está de gritos. Retirou a carga de revolta perante mais esta "obra", que eu definiria, de cosmética-para-encher-pneus, ehehehe.
(Comentário feito no facebook)
Eheheh. Rio não da forma como estão a efetuar as obras do Chafariz mas pelas palavras dos moradores da zona... parecem fazer parte dum enredo de algum livro já lido... bem português. Caro Verissimo, as obras irão terminar de acordo com o plano estabelecido, disso não tenho já dúvidas, porque se as entidades responsáveis tivessem outro querer já tinham alterado o projeto. Lamento imenso que a vontade dos que têm memória do que foi o Chafariz não seja tida em conta. Um abraço e adorei ler este seu artigo, como sempre.
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