sexta-feira, agosto 05, 2022

A MORTE NOS (...) REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (VI)


Por; Manuel da Silva Castelo Branco

(Continuação)
Era uma hora da madrugada ... Apanhados de surpresa e antes de poderem ripostar, D. Pedro e Manuel de Matos foram atingidos cada um por 5 balas e Bernardo da Silva ficou com os três dedos principais da mão esquerda esfacelados. Alertados pelo ruído do tiroteio e gritaria, acorreram criados e alguns soldados da guarnição, que transportaram os feridos para o Paço da Alcáçova.
Ali faleciam, no mesmo dia e depois de confessados e receberem a extrema unção, tanto D. Pedro como o seu criado. 

Quanto a Bernardo da Silva sobreviveu aos ferimentos, permanecendo no castelo durante algum tempo sob os cuidados do médico e cirurgião Dr. Francisco de Luna (irmão do célebre Dr. Filipe Montalto). Este dramático acontecimento provocou um verdadeiro estado de tensão na vila, pois o alcaide- -mor D. António de Meneses tomou imediatamente as medidas indispensáveis para a captura e castigo dos implicados na morte de seu filho: fecharam-se as portas da fortaleza e cerca amuralhada; piquetes armados esquadrinhavam a terra e arredores, em busca dos assassinos; meteram-se na prisão algumas pessoas supostas cúmplices no atentado, entre elas os pais de Manuel da Fonseca Leitão e Simão da Silva de Almeida (o pai e a irmã deste ficaram detidos em casa). 
Durante três dias, os sinos das igrejas anunciam as cerimónias com o enterro das vítimas e a celebração de missas por suas almas. De Lisboa veio logo uma numerosa alçada presidida pelo desembargador João Pinheiro, que convoca e ouve testemunhas, entre as quais o Dr. Francisco de Luna; liberta os julgados inocentes, como o Dr. João de Almeida e seus filhos; e acaba por confirmar as suspeitas quanto ao envolvimento no caso da nobre família dos Fonseca Leitão. A alçada permanece bastante tempo na vila, recebendo ordenados elevados todos os seus membros. Assim: o juiz-presidente, Dr. João Pinheiro, vencia 4 cruzados por dia; o meirinho Francisco do Vale e o escrivão Sebastião do Vale, 500 réis cada um, além de mais 12 homens a 100 réis e tudo ã custa da fazenda dos delinquentes. 
Enfim, a sentença é pronunciada em Castelo Branco, a 14.12.1624, sendo condenados todos os culpados não só em pesadas penas pecuniárias destinadas às famílias das vítimas e despesas com o processo, mas também aos mais severos castigos, que são logo executados na praça da vila e por forma simbólica, pois não se haviam capturado os criminosos.
Assim: Manuel da Fonseca Leitão foi degolado em estátua ao pé do pelourinho e obrigado ao pagamento de 2000 cruzados a D. António de Meneses, 300000 réis aos irmãos de Manuel de Matos e 200000 réis para Bernardo da Silva; Francisco da Costa de Mendonça (seu tio, irmão da mãe) enforcado também em estátua e a igual indemnização; João Tavares, o «Castelhano» e Francisco Mayor, o «corta-focinhos», enforcados depois de decepadas as mãos no pelourinho; Francisco da Proença degradado até ao fim da vida para Angola, com baraço e pregão pelas ruas públicas; Manuel Vaz Alfaia e António Sanches em 5 anos de degredo para o Brasil. 
Quanto aos pais e irmãos de Manuel da Fonseca Leitão, que haviam ficado presos, foram condenados em 8 anos de degredo para o Brasil; a nunca mais viverem em Castelo Branco ou 10 léguas ao redor; e no pagamento de 4000, 200 e 100 cruzados, respectivamente, para os mesmos acima nomeados. Como os restantes réus andavam fugidos, Antão da Fonseca teve de suportar todas as penas pecuniárias, avaliadas em cerca de 25000 cruzados. No cumprimento da sentença partiu para o Brasil, onde morreram sua mulher e dois filhos, ambos solteiros e sem geração: a infeliz D. Maria de Mendonça e João da Fonseca, a quem mataram em Pernambuco. De regresso a Portugal, viveu os últimos anos em Oledo, aqui falecendo a 15.3.1651.

(Continua)
                                                                 O ALBICASTRENSE

3 comentários:

  1. Perante isto e, principalmente, perante a brutalidade do castigo de João Tavares e Francisco Mayor (os tipos até podiam ser criminosos, mas decepar-lhes as mãos e enforcá-los - à sensibilidade de hoje, claro! - não deixa de ser uma atrocidade!), andei às voltas neste blogue (único para o efeito) a ver onde estaria, na época, o pelourinho... Parece que se mantém o mistério do seu desaparecimento? Aquele bocado de coluna, supostamente pertencente ao pelourinho, ainda estará na antiga rua do Saco? Em princípio, ele terá sido derrubado entre 1880 e 1900, certo? Realmente, as mentalidades evoluem tão devagarinho, que as palermices cometidas há mais de 100 anos, se repetem hoje, como se ainda não se tivesse aprendido que a História não existe para termos orgulho ou vergonha do nosso passado!

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    1. O pedaço da coluna que segundo o Dr. Lobo podia ser do antigo pelourinho ainda mora na velha rua do Saco.
      Manuela não posso estar mais de acordo, quando diz; "Realmente, as mentalidades evoluem tão devagarinho, que as palermices cometidas há mais de 100 anos, se repetem hoje, como se ainda não se tivesse aprendido que a História￳ria n ̄o existe para termos orgulho ou vergonha do nosso passado!"
      Os políticos são na sua grande maioria, destrutivos do nosso passado, na ânsia de darem as vistas, arrasam o passado para erguerem terras sem memórias.
      Abraço

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    2. Neste caso específico do pelourinho, pelo que percebi, ele (o pelourinho) não foi arrasado para dar lugar a outra/s obras de "dar no olho"! Foi mesmo (repito: pelo que eu percebi) uma tentativa ridícula de apagar a História! Claro que às vezes é apenas para se mostrarem modernos e nem as pensam!... E agora veio-me à memória um trecho da Monografia de Castelo Branco, do António Roxo (já a referi noutro comentário), onde diz que o povo deu cabo da arte dos azulejos da capela da Sra da Piedade por puro fanatismo religioso... Há asneirentos pra todos os gostos!

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