Por; Manuel da Silva Castelo Branco
(Continuação)
Era uma hora da
madrugada ... Apanhados de surpresa e antes de poderem ripostar, D. Pedro e
Manuel de Matos foram atingidos cada um por 5 balas e Bernardo da Silva ficou
com os três dedos principais da mão esquerda esfacelados. Alertados pelo ruído
do tiroteio e gritaria, acorreram criados e alguns soldados da guarnição, que
transportaram os feridos para o Paço da Alcáçova.
Ali faleciam, no mesmo
dia e depois de confessados e receberem a extrema unção, tanto D. Pedro como o
seu criado.
Quanto a Bernardo da Silva sobreviveu aos ferimentos, permanecendo
no castelo durante algum tempo sob os cuidados do médico e cirurgião Dr.
Francisco de Luna (irmão do célebre Dr. Filipe Montalto). Este dramático
acontecimento provocou um verdadeiro estado de tensão na vila, pois o alcaide-
-mor D. António de Meneses tomou imediatamente as medidas indispensáveis para a
captura e castigo dos implicados na morte de seu filho: fecharam-se as portas
da fortaleza e cerca amuralhada; piquetes armados esquadrinhavam a terra e
arredores, em busca dos assassinos; meteram-se na prisão algumas pessoas
supostas cúmplices no atentado, entre elas os pais de Manuel da Fonseca Leitão
e Simão da Silva de Almeida (o pai e a irmã deste ficaram detidos em casa).
Durante três dias, os sinos das igrejas anunciam as cerimónias com o enterro
das vítimas e a celebração de missas por suas almas. De Lisboa veio logo uma
numerosa alçada presidida pelo desembargador João Pinheiro, que convoca e ouve
testemunhas, entre as quais o Dr. Francisco de Luna; liberta os julgados
inocentes, como o Dr. João de Almeida e seus filhos; e acaba por confirmar as
suspeitas quanto ao envolvimento no caso da nobre família dos Fonseca Leitão. A
alçada permanece bastante tempo na vila, recebendo ordenados elevados todos os
seus membros. Assim: o juiz-presidente, Dr. João Pinheiro, vencia 4 cruzados
por dia; o meirinho Francisco do Vale e o escrivão Sebastião do Vale, 500 réis
cada um, além de mais 12 homens a 100 réis e tudo ã custa da fazenda dos
delinquentes.
Enfim, a sentença é pronunciada em Castelo Branco, a 14.12.1624,
sendo condenados todos os culpados não só em pesadas penas pecuniárias
destinadas às famílias das vítimas e despesas com o processo, mas também aos
mais severos castigos, que são logo executados na praça da vila e por forma
simbólica, pois não se haviam capturado os criminosos.
Assim: Manuel da
Fonseca Leitão foi degolado em estátua ao pé do pelourinho e obrigado ao
pagamento de 2000 cruzados a D. António de Meneses, 300000 réis aos irmãos de
Manuel de Matos e 200000 réis para Bernardo da Silva; Francisco da Costa de
Mendonça (seu tio, irmão da mãe) enforcado também em estátua e a igual
indemnização; João Tavares, o «Castelhano» e Francisco Mayor, o
«corta-focinhos», enforcados depois de decepadas as mãos no pelourinho;
Francisco da Proença degradado até ao fim da vida para Angola, com baraço e
pregão pelas ruas públicas; Manuel Vaz Alfaia e António Sanches em 5 anos de
degredo para o Brasil.
Quanto aos pais e irmãos de Manuel da Fonseca Leitão,
que haviam ficado presos, foram condenados em 8 anos de degredo para o Brasil;
a nunca mais viverem em Castelo Branco ou 10 léguas ao redor; e no pagamento de
4000, 200 e 100 cruzados, respectivamente, para os mesmos acima nomeados. Como
os restantes réus andavam fugidos, Antão da Fonseca teve de suportar todas as
penas pecuniárias, avaliadas em cerca de 25000 cruzados. No cumprimento da
sentença partiu para o Brasil, onde morreram sua mulher e dois filhos, ambos
solteiros e sem geração: a infeliz D. Maria de Mendonça e João da Fonseca, a
quem mataram em Pernambuco. De regresso a Portugal, viveu os últimos anos em
Oledo, aqui falecendo a 15.3.1651.
(Continua)
O ALBICASTRENSE
Perante isto e, principalmente, perante a brutalidade do castigo de João Tavares e Francisco Mayor (os tipos até podiam ser criminosos, mas decepar-lhes as mãos e enforcá-los - à sensibilidade de hoje, claro! - não deixa de ser uma atrocidade!), andei às voltas neste blogue (único para o efeito) a ver onde estaria, na época, o pelourinho... Parece que se mantém o mistério do seu desaparecimento? Aquele bocado de coluna, supostamente pertencente ao pelourinho, ainda estará na antiga rua do Saco? Em princípio, ele terá sido derrubado entre 1880 e 1900, certo? Realmente, as mentalidades evoluem tão devagarinho, que as palermices cometidas há mais de 100 anos, se repetem hoje, como se ainda não se tivesse aprendido que a História não existe para termos orgulho ou vergonha do nosso passado!
ResponderEliminarO pedaço da coluna que segundo o Dr. Lobo podia ser do antigo pelourinho ainda mora na velha rua do Saco.
EliminarManuela não posso estar mais de acordo, quando diz; "Realmente, as mentalidades evoluem tão devagarinho, que as palermices cometidas há mais de 100 anos, se repetem hoje, como se ainda não se tivesse aprendido que a Históriaria n ̄o existe para termos orgulho ou vergonha do nosso passado!"
Os políticos são na sua grande maioria, destrutivos do nosso passado, na ânsia de darem as vistas, arrasam o passado para erguerem terras sem memórias.
Abraço
Neste caso específico do pelourinho, pelo que percebi, ele (o pelourinho) não foi arrasado para dar lugar a outra/s obras de "dar no olho"! Foi mesmo (repito: pelo que eu percebi) uma tentativa ridícula de apagar a História! Claro que às vezes é apenas para se mostrarem modernos e nem as pensam!... E agora veio-me à memória um trecho da Monografia de Castelo Branco, do António Roxo (já a referi noutro comentário), onde diz que o povo deu cabo da arte dos azulejos da capela da Sra da Piedade por puro fanatismo religioso... Há asneirentos pra todos os gostos!
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