terça-feira, setembro 20, 2022

MEMÓRIAS DA TERRA ALBICASTRENSE

  UM POUCO DA HISTÓRIA
DA 
RUA DOS FERREIROS 


Numa rua onde mora a tristeza, nada melhor que lembra aqui um pouco da sua história para minguar a dor.
A festa dos organismos corporativos realizava-se na procissão do Corpo de Cristo,  competia aos Municípios, organizar a procissão. Nela se incorporavam as três classes da sociedade: o clero, a nobreza e o povo. 
A imagem de S. Jorge, padroeiro do reino era levada a cavalo: o rei e os príncipes seguravam as varas do palio: cada organismo apresentava-se sob a proteção de um santo cuja imagem transportava em andor ou ostentava numa bandeira
Os ferreiros de Castelo Branco não tinham nenhuma imagem. Eram obrigados a vestirem-se de diabo, expondo-se a toda a espécie de vexames para se incorporem na procissão. A Câmara exigia que dois ferreiros fossem vestidos de diabo. Isto manteve-se até ao século XVIII.
Em 1700 os ferreiros apresentaram queixa e pediram licença para "darem um santo do seu ofício que é S. Dustan e aliviarem-nos de darem os diabos que costumavam dar".
A Câmara aceitou e propôs que a partir de então, transportariam o "S. Dustan em sua charola com quatro tochas".
A escolha deste Santo esta baseada numa lenda segundo a qual o diabo teria entrado em casa daquele santo que era ferrador. Dustan amarrou o diabo para o ferrar e ter-lhe-ia infligido tais tormentos que este lhe prometeu nunca mais entrar em casa de ferreiros. Desta lenda "talvez" tenha vindo a superstição do uso da ferradura para afugentar o diabo. (diz… Tavares dos Santos).
Segundo o Tombo de Santa Maria do Castelo de 1753 descrito por Porfírio da Silva, havia na Igreja de S. Miguel um altar e uma imagem de S. Dustan. Ficava precisamente onde hoje se encontra um belo portal com colunas de granito que faz a ligação entre o corpo da Igreja e o átrio da Sacristia Grande.
Ai estava a imagem de S. Dustan em vulto com uma tenaz de ferreiro na mão que por sua devoção lhe ofertaram os ferreiros desta vila para se livrarem da obrigação que tinham de dar para a procissão do Corpo de Deus a figura do diabo, para que prometeram também levar o dito santo àquela procissão, principiando no ano de 1698, ficando por este modo dispensados de darem aquela diabólica figura (Porfírio da Silva).
Resta acrescentar que a imagem de S. Dustan, que terá sido obra dos ferreiros albicastrenses "ausentou-se da cidade" e nunca mais soube do seu paradeiro.
PS. Recolha de dados históricos: José Ribeiro Cardoso 
e jornal "Reconquista".
O Albicastrense

1 comentário:

  1. Não sabia que São Jorge era padroeiro do reino, mas essa é a parte menos interessante de mais esta interessantíssima pérola de Castelo Branco! Para quando um livro com a compilação de todas estas pérolas? Seria um sucesso!... digo eu, não sei... A bibliografia é muito vasta e pode até estar (mais ou menos) acessível, mas o António é mestre na sua pesquisa e divulgação! Parabéns.

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