sexta-feira, setembro 23, 2022

O AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES – (13)

Por Manuel da Silva Castelo Branco

História da Lápide Sepulcral Biface (2ª parte)

(Continuação)
Assento 20 ( S2 - 50, fl. 68v) –
 O Excelentíssimo Senhor D. Frei Vicente Ferrer da Rocha, da Sagrada Ordem dos Pregadores, segundo bispo desta diocese, faleceu aos 25 dias do mês de Agosto de 1814. Recebeu somente o sacramento da extrema-unção (por não dar lugar a mais um acidente) e foi sepultado no adro desta igreja, segundo a determinação do mesmo senhor, de que fiz este termo que assinei / O Vigº encomendado Manuel Mendes de Abreu.
À margem:
- No dia 23 de Outubro deste ano de 1943, foi feita a trasladação dos restos mortais do bispo D. Vicente Ferrer da Rocha,
falecido em 25 de Agosto de 1814, do adro da Sé de Castelo Branco para uma sepultura da capela-mor da mencionada igreja da Sé.
O Conservador Adelino de Sousa.
Comentário
D. Frei Vicente Ferrer da Rocha, nascido a 5.4.1737 na freguesia de Santos-o-Velho (Lisboa) e religioso professo da Sagrada Ordem dos Pregadores, tomou posse do bispado de Castelo Branco em 7.3.1783 e, nesse mesmo ano, foi eleito por aclamação Provedor da sua Misericórdia.
Ao seu génio empreendedor se devem importantes melhoramentos: a ampliação do Paço Episcopal com o corpo do lado Norte, o estabelecimento do monumental peristilo da entrada nobre e a decoração da capela, janelas e salas, onde predominam os estuques artísticos; o alargamento e beneficiação do Jardim do Paço; a construção dos dois corpos laterais da igreja da Sé, formados pela formosa Capela do Santíssimo Sacramento e pela Sacristia Grande e Câmara Eclesiástica, etc. 
Atravessou o 2º bispo de Castelo Branco um período difícil durante as invasões francesas (1807-1812), tendo falecido a 25.8.1814 (como refere o Assento20) de uma apoplexia que lhe deu no dia 22, sendo sepultado de acordo com as suas determinações no adro da igreja da Sé, quási em frente da porta da Sacristia. (28)
Ora, ao procederem à sua inumação cometeu-se um acto para o qual não encontrei ainda qualquer justificação satisfatória... Assim, a fim de cobrir a sepultura de D. Frei Vicente utilizou-se a mesma campa que havia 86 anos tinha sido colocada sobre a de D. Joana Maria Josefa de Meneses, como contei na 1° parte desta história. 
Para o efeito, virou-se ao contrário e sobre a nova face vista (o anverso da anterior) gravaram-se, igualmente, as armas do Prelado com as respectivas insígnias e um letreiro identificativo contendo a data do seu falecimento. Deste modo surgiu a chamada lápide sepulcral biface (isto é, com epígrafes diferentes nas duas faces) a qual, durante cerca de 129 anos, permaneceu no adro da Sé sem qualquer protecção ou resguardo dos agentes atmosféricos, pessoas e animais... Talvez por esse motivo e/ou pelo trabalho mais apressado do canteiro, o seu lavor apresenta-se um pouco sumido e menos perfeito que o primeiro.
Porém, uma vez mais o destino viria alterar esta situação pois, a 23.10.1943, (como se indica no averbamento ao Assento 20) procedeu-se à exumação dos restos mortais do Bispo e à sua trasladação para um sarcófago colocado sob o arco cruzeiro da capela-mor da mesma igreja, em conformidade com as instruções de D. Domingos Frutuoso, então bispo de Portalegre... (29)
Quanto à lápide sepulcral biface manteve-se ainda durante algum tempo no adro da Sé, recolhendo finalmente ao Museu ... (30
(Continua )
O ALBICASTRENSE

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