Colchas de Noivado
Reis, Rainhas, Presidentes e Primeiros-ministros de países estrangeiros têm hoje em suas casas, colchas ou painéis do bordado de Castelo Branco, brindados pelos nossos governantes ao longo dos tempos.
No entanto se formos ao museu Francisco Tavares Proença Júnior, ou a qualquer livraria da cidade (ou fora da cidade), à procura de uma qualquer publicação sobre os nossos bordados, não encontramos rigorosamente nada à venda.
Não sei a quem cabem as responsabilidades de tal desmazelo, sei no entanto, que os nossos bordados não merecem tal descuido, se não existe arte e engenho por parte dos responsáveis deste sector, para se publicar um livro sobre o bordado de Castelo Branco, então que se reeditem edições anteriores meus senhores.
Ainda em relação ao nosso bordado gostaria de dar a conhecer um pequeno texto de: E. De Salles Viana, publicado em 1942 para uma exposição realizada
“Colchas de noivado”, que encontrei na nova biblioteca da nossa cidade, e que adorei ler.
ALGUMAS PALAVRAS
O linho e a seda unidos em jubileu festejam a Vida, o Amor…a cantar!
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E as colchas foram bordadas pelas noivas para o tálamo nupcial!
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Para as colchas se plantaram as amoreiras, se criou o sirgo, se fiou a seda que, posta em meadas, foi lavada, branqueada e tingida.
Nas colchas de noivado, ouvem-se ainda os ecos distantes e saudosas dos cânticos de Amor que algum dia se salmodiaram à luz do Desejo, na liturgia de casamentos já longínquos, quando ainda se cumpria, como dever e como lei de Deus, a máxima da Bíblia Sagrada que ordenou a multiplicação da Raça!
Há um certo parentesco entre as colchas de noivado da Beira Baixa e os lenços de namorados do Minho e de Trás-os-Montes. Num desses lenços, entre muitos do acaso, bordados a vermelho e a ponte cruz, vêem-se pequenas albarradas ladeadas por dois pássaros, e, a par, dois corações que florescem em comum, um galo e uma galinha cobertos pela coroa real. Ao lado do galo está a letra M (Manuel).
Ao lado da galinha lê-se Min, o eu da bordadeira que afinal se chamava Gracinda Rosa, como se revela na outra margem do lenço. A certa altura uma data! 1907, o ano feliz em que o Manuel e a Gracinda abriram um ao outro seus corações em festa.
A albarrada representa a Família e os dois corações que a par florescem em comum, são duas almas num corpo só; o galo e a galinha, num único ramo, aludem aos desposados; e a coroa real, longe de ser um símbolo de heráldica, é antes a expressão plástica da autoridade familiar, a soberania do patriarca.
Ora nas colchas de noivado o pássaro bicéfalo não pode deixar de representar também as mesmas duas almas num corpo só; as albarradas e as árvores, a Família, os dois pássaros a ladear ramos ou arvores, os desposados: os encadeados, a cadeia indestrutível do matrimónio que vai ligar os nubentes. E assim, os cravos alegorizam o homem, as rosa a mulher, os lírios a virgindade, os corações o Amor, as gavinhas a amizade, e hera a afeição, os jasmins a pureza, o galo a virilidade, as romãs e as pinhas a união indissolúvel da Família, na alegria e na dor, as frangas e os galaripos a Prole Bendita, fruto do casamento.
E, embora as colchas sirvam hoje para engalanar varandas, balcões e janelas, em dias de procissões, também nenhuma se fez com intuito religioso, em nenhuma se vê qualquer alusão mística, nem sequer a Cruz, símbolo e síntese máxima do cristianismo.
Colchas de noivado, sempre diferentes! O linho e a seda unidos em jubileu festejam a Vida, o Amor… a cantar!
Maio de 1942 E. DE SALLES VIANA
O Albicastrense
Os tradicionais bordados de Castelo Branco estão em vias de se adaptar à evolução dos tempos, através da integração de novas tecnologias no seu processo de elaboração. Este é, pelo menos, o objectivo final de um projecto que está a ser desenvolvido por dois professores do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB), através de uma ferramenta informática que José Gago da Silva, da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), e Sérgio Barbosa, da Escola Superior de Tecnologia (EST), estão a desenvolver e que permita o desenho assistido por computador dos famosos bordados, no âmbito do “Projecto Ex-Libris – Reconverter/ Adaptar/ Certificar o Bordado de Castelo Branco”, financiado pelo programa comunitário Equal. José Gago da Silva explica que “o processo tradicional (analógico) passa por se fazer um desenho em cima de folhas de papel que, depois, é transferido por técnica de picotado para o tecido, sendo que a grande novidade do projecto é a introdução de um sistema digital num processo analógico, o que possibilitaria a minimização das fases de produção dos bordados”. Tendo como parceiros a Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro-Sul (ADRACES), Museu de Francisco Tavares Proença Júnior e Câmara de Castelo Branco, o projecto, iniciado em Setembro de 2005 e com conclusão prevista para o final de Agosto de 2007, procura minimizar o tempo de execução e maximizar a competitividade da actividade, sem desvirtuar a tradição. De acordo com o IPCB, a ideia foi criar um software em que os utilizadores possam aceder a uma livraria (base de dados) que obedecesse a determinadas regras estandardizadas do que seriam considerados desenhos de qualidade dos bordados de Castelo Branco. A partir daí, “o utilizador teria os desenhos sempre à sua disposição ou então existe ainda a possibilidade de criação de novos desenhos, com recurso a um ‘tablet pc’” (computador de ecrã táctil onde é possível desenhar na superfície do monitor), esclarece o investigador. Ao ser implementada, a ferramenta vai permitir que, num curto espaço de tempo, se possa completar os desenhos com cores, sendo depois este impresso em tecido numa plotter (impressora para grandes formatos e diversos materiais). Logo de seguida, pode iniciar-se o processo de bordados. “Desta forma, estamos a comprimir um período de tempo longo e algo dispendioso”, refere o investigador. Horas de trabalho antes de bordar b\ Embora o tempo despendido no método tradicional varie consoante o tamanho de desenho e a técnica utilizada, uma bordadeira pode demorar “entre nove a 11 horas de trabalho antes de começar efectivamente a bordar”. Ora, o objectivo da ferramenta “não é copiar o método tradicional, mas sim simular processos analógicos para um meio digital”, o que levanta uma série de problemas. “Existe uma relação muito intuitiva com o lápis, com o qual as bordadeiras desenvolveram uma grande relação”. A grande dificuldade, segundo José Gago da Silva “é transpor esse hábito de trabalho para uma ferramenta digital”. Com essa noção em mente, um dos objectivos do projecto é preparar o caminho para a formação das bordadeiras. Para isso, Gago da Silva está elaborar uma estratégia de ensino sobre os conteúdos e operacionalidade da ferramenta, que servirá, no futuro, para que formadores qualificados dêem aulas ao público interessado. “Estamos a falar de um público-alvo em que a faixa etária ronda os 40 e os 50 anos, com baixa ou inexistente formação de informática”, recorda. Avaliando a investigação como sendo “pioneira na região”, José Gago da Silva considera que o projecto “poderá abrir caminhos a muitos outros no futuro, uma vez que trabalha num campo com muitas limitações: tipo de interface, público-alvo e exploração de uma nova área torna-se difícil de saber a fronteira para a aplicação nos bordados”. Partilha de desenhos pela Internet b\ O método analógico tradicional faz com que a reutilização ou partilha do desenho esteja bastante limitada. Com a proposta de ferramenta pretende-se simplificar a partilha de desenhos que estarão arquivados na livraria. “Cada utilizador da ferramenta vai possuir uma lista de favoritos, podendo partilhar o conteúdo dessa lista com outras pessoas”, adianta o investigador. Uma das possibilidades em análise é que a ferramenta tenha uma ligação a uma página da Internet, onde estariam novidades (novos desenhos) que poderiam ser descarregados para a área pessoal de cada utilizador. Segundo o investigador, esta funcionalidade “possibilitaria a criação de uma comunidade de utilizadores, que fariam a partilha das imagens por sua conta e risco”. O objectivo do módulo informático é possibilitar aos utilizadores “uma experiência rápida e eficaz”, conclui. O projecto iniciou-se com a avaliação dos processos tradicionalmente utilizados no desenho das peças, para se perceber os fluxos de trabalho (concepção e realização do desenho). “Tentamos perceber como funcionava o processo de forma a conseguir recriá-lo no ambiente digital”, explica José Gago da Silva. Paralelamente, Fernando Sérgio Barbosa foi desenvolvendo experiências em módulos de programação que pudessem ser aplicados nesta ferramenta. Com base nas apreciações iniciais, o professor da EST desenvolveu uma ferramenta “em bruto”, que está agora a ser aperfeiçoada. Origens e características do produto b\ A actividade secular do bordado de Castelo Branco, cuja origem é difícil de precisar no tempo, surgiu na Beira Baixa, graças à produção local de linho em grandes quantidades. O bordado albicastrense tipifica, nos seus motivos a aliança duma indústria doméstica, com os motivos e as técnicas próprias do bordado oriental. Em tempos idos, a colcha de Castelo Branco estava destinada a servir de coberta na cama dos noivos em dia de casamento, e daí o grande número de bordadeiras que iam consolidando, dia após dia, uma forma artesanal cheia de interesse, cujo hábito da confecção se foi perdendo, ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Em 1941 assiste-se ao ressurgimento desta indústria caseira, através do fomento da sua produção, nomeadamente pela criação de escola de bordados. Em 1976 e até aos dias de hoje, o Museu Tavares Proença Júnior tem em funcionamento a Oficina-Escola de Bordados Regionais. Os motivos que entram na composição das colchas são extremamente variados, com especial tendência para desenhos vegetalistas, antropomorfos e inanimados. No primeiro grupo, há grande variedade: cravos, rosas, camélias, túlipas, peónias, lírios, flores-de-lis, narcisos, jasmins e todas as flores de árvores de fruto. Os animais são um dos temas favoritos. Galos, galinhas, pombas, águias e papagaios; catatuas, faisões, pavões, cavalos, corças e veados, esquilos, coelhos são alguns exemplos. Quanto aos motivos antropomorfos, como as colchas foram criadas para camas de casados, é o clássico par de noivos que aparece quase sempre a ladear a árvore da família que se mostra florida e repleta de pássaros.
ResponderEliminarDRA. AIDA A COVEIRA PRINCIPAL
Alguém me sabe dizer onde encontro o software (Riscos) ou o site da empresa/instituto/representante que o disponibiliza ou comercializa a quem pretenda experimentá-lo?
ResponderEliminarÉ que estou há 2 horas a pesquisar a internet sobre este software (de bordados) e não encontro nada de concreto, apenas notícias de divulgação do mesmo em blogs, revistas, jornais regionais, etc.
Muito obrigada pela ajuda.
este site nao e assim tao bom mas sempre da para aproveitar pois eu ando no 6 ano e por isso tive de fazer um trabalho dos bordados de castelo branco mas na mesma muito obrigado.
ResponderEliminarJovem amigo.
ResponderEliminarEste é o site possível de alguém que também concorda que ele podia ser melhor, porém, quem faz o melhor que sabe, mais não se lhe pode pedir.
Um abraço para ti.