segunda-feira, novembro 05, 2007

ZÉ GAVETAS

NUM DOS COMENTÁRIOS COLOCADOS NESTE BLOG ALGUÉM PERGUNTAVA:
Para quando um poste dessa figura mítica albicastrense, que dava pelo nome de ZÉ GAVETAS?

JOSÉ DA ASCENÇÃO
O desafio foi aceite e depois de alguma pesquisa, aqui está o trabalho, sobre essa excêntrica figura, (como há bem pouco tempo Fabião Batista, rotulou esta e outras personagens albicastrenses, num recente trabalho publicado no Jornal "A Reconquista").

Das poucas figuras extravagantes que a nossa cidade conheceu no século XX, esta será seguramente uma das mais lembradas, e ao mesmo tempo, uma das que mais saudades deixaram aos albicastrenses. O Zé Da Assunção "Gavetas" nasceu no Castelo, (hoje conhecido como zona histórica de Castelo Branco), entre anos vinte e anos trinta (?), filho de um romance "furtivo" de sua mãe, com um militar de alta patente (segundo boatos da altura, consta que ele era a cara do dito cujo), ali cresceu e se fez homem, também lá morreu nos anos setenta. 
Muitas são as histórias contadas na nossa cidade, sobre o Zé Gavetas, umas serão autênticas e outras forjadas pelo próprio tempo. Algumas das histórias que aqui vou contar foram-me relatadas pela sua prima D. Adelaide hoje com 87 anos, outras por pessoas amigas que o conheceram, outras são parte das minhas próprias recordações de criança e por fim algumas são fruto de pesquisa em jornais da cidade. 
Conta-se que quando se vestia de fato e gravata ou papillon, (mesmo que o referido fato, fosse de segunda mão), tomava uma postura de aristocrata, parecendo mesmo um grande senhor de maneiras e atitudes importantes e ricaças. Era desta maneira, que ele muitas vezes passeava frente às esplanadas dos Cafés Aviz e Arcádia, exibindo-se e olhando por cima do ombro, para quem ali se encontrava nas esplanadas, à espera que o saudassem carinhosamente. 
Essa sua "extravagância" de grandeza e de pessoa importante, chegava a ponto de dizer a sua tia (Mãe de D. Adelaide) que brevemente ia casar, porém não as podia convidar para o casamento, pois à cerimónia só iriam pessoas importantes (Doutores como ele gostava de dizer).  Consta que um dia o fotógrafo Barata o convidou para tirar umas fotografias, arranjou-lhe um fato, assim como todos os acessórios necessários para a reportagem, e toca a tirar fotografias, fotografias em que o Zé aparecia que nem um lorde, em diversas posições, com cigarro, ou sem cigarro, sentado ou em pé. 
Estas fotos obtiveram um enorme sucesso na nossa cidade nos anos 50, (a fotografia aqui apresentada, deverá ser uma dessas). Conta-se que a sua presença frente à Escola do Magistério Primário era quase diária, as jovens que frequentavam esta escola eram todas suas namoradas (segundo ele), eram elas que na maior parte das vezes, lhe traziam roupa e alimentavam e o acarinhavam.  Das histórias mais hilariantes que sua prima me contou, a que se segue é seguramente a que mais cozo me deu ouvir. Segundo ela a nossa personagem tinha um grupo de amigos que regularmente se reunia na sua casa no castelo em jantaradas e muitos copos, um dia dois deles vão roubar um Borrego e toca a fazer uma grande jantarada.
O dono do bicho descobre e leva-os a tribunal, em plena sala de audiência o Zé juntamente com o outro capincha (que não consegui saber quem era), começam a elogiar as paredes da sala do tribunal e os quadros ali expostos, dizendo em voz alta para quem os quisesse ouvir "que belos quadros e bonita parede" o juiz volta-se para o dono do borrego e diz-lhes:
- O que é que o senhor quer que eu faça a estes dois malucos!
Naquele tempo havia uma casa de prostituição no Castelo, (a casa da Carmo). Segundo consta era o Zé, que encaminhava para lá os rapazes que vinham fazer a inspeção militar na nossa cidade (qual seria o pagamento de tal serviço). 
Zé terá sido o antecessor do saudoso Guilhermino, (outra figura popular da cidade), no trabalho que este desempenava no Cine Teatro Avenida, pois era ele que no antigo Cine Vaz Preto (situado na rua Tenente Valadim) ia buscar os filmes à estação do comboio. Quando deixou de trabalhar neste local, era usual vê-lo à saída das sessões com um cartaz onde se podia ler. "Ó criado não me mates a trabalhar, que o Zé Gavetas vai-te encerar a casa e dar brilho ao teu soalho", o Zé chegou ainda a vender jornais e revistas, foi tombem engraxador no antigo largo dos cafés.
Para terminar este poste falta dizer o seguinte:
O Zé alimentava pela mãe um grande carinho, (facto que eu próprio ouvi em criança), e que tudo fazia para lhe agradar.
Para quem como eu conheceu esta personagem, durante a minha juventude, resta acrescentar que embora a sua saúde mental muito deixasse a desejar, nunca lhe ouvi uma palavra de ofensa, para quem quer que fosse. 
Morreu na década de 70 (não consegui saber o ano do óbito), com a sua morte a cidade de Castelo Branco perdeu uma das figuras mais populares excêntricas do século XX.
                                                O Albicastrense

8 comentários:

  1. Anónimo21:40

    por falar em casamentos, eu lembro-me de lhe escrever uma carta (ele nao sabia escrever)para uma pessoa de familia em lisboa, em que ele dizia que se ia casar.Isto ja nos finais dos anos 70. Escrevi algumas cartas que ele me ditava no cafe lusitania.Granda gavetas, e parece que tambem era maluco pelo benfica de castelo branco,ou seria o desportivo?

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  2. Anónimo12:56

    A do tribunal foi assim. Ao apontar para o busto da Républica que dominava a sala diz o Zé para o Mouco em voz alta:- "OLHA, olha ali a Pátria portuguesa". Foi a risota geral. Se procurar nos jornais da década de setenta encontrará uns célbrers reuniões dos Josés de Castelo Branco. Ficaram célebres os discursos do Zé Gavetas e o do do Dr. José Lopes Dias. Ainda não havia almoços dos bigodes.

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  3. Caro anónimo.
    Bem-haja por nos contar(ou corrigir), mais uma das muitas histórias, que se contam sobre esta simpática personagem, que foi o Zé Gavetas.
    O Albicastrense

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  4. Anónimo19:21

    Obrigado por recordar essa figura ímpar da cidade de Castelo Branco.
    Uma que corria, cerca de 1960, quando Gavetas vendia o jornal recente «Diário Ilustrado» era que, uma das vezes em que entrou no Café Arcádia, apregoando aquele periódico, aconteceu que, de todos os clientes (a maioria doutores, altos funcionários e outra «gente bem») ninguém lhe comprou o produto.
    Então, amigo Gavetas, antes de sair do estabelecimento, perfilou a sua imponente figura entre a porta e, virando-se para dentro, disse solenemente:
    – Tudo analfabetos, só analfabetos!!!
    E retirou-se, cheio de dignidade.

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  5. Anónimo06:24

    nas festas da cidade uma vez convidaram um frances. O lema do avec era
    ^chegou, viu e venceu^ parece que vivia em lisboa naaltura, bom as tantas pediu a alguem do publico para ir ao palco, hehe vai o ze gavetas e formam um duo tal que, no ano seguinte o frances foi convidado e, a primeira coisa que faz e' perguntar pelo gavetas.La' teve o ze' que ir cantar outra vez...

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  6. Só agora (Janeiro-2009) tomei conhecimento do blogue. “Zé Gavetas” chamava-se José de Ascensão e não Assunção. Era filho de Maria do Rosário, indigente, e de pai incógnito. Nasceu no Hospital da Misericórdia de Castelo Branco, a 25 de Junho de 1929. Faleceu no mesmo Hospital a 20 de Agosto de 1973, após uma intervenção cirúrgica de que não recuperou. Foi sepultado no dia seguinte, pelas 18 horas, na campa 123, rua 2, cantão 2, do cemitério de Castelo Branco.
    Ler o meu artigo publicado na “Reconquista”, no final de Junho de 2004.

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  7. Caro Joaquim.

    Bem-haja pelo seu esclarecimento.
    Zé Gavetas foi sem dúvida uma das personagens mais queridas dos albicastrenses nessa época.

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  8. Conheci esta figura típica Albicastrense durante muitos anos e na década de cinquenta, estava no auge da sua popularidade. Recordo essa foto e se não estou em erro foi figura de primeira página do já extinto O SÉCULO. Ali se evidenciava o quanto de bondade o Zé era ; não maltratava ninguém e quando passava e exibia a sua pessoa ; fazia-o com a classe , que lhe era própria !... Era vê-lo esperar as meninas à saída do Liceu Nuno Álvares e o desfilar pela Avenida, no seu charme e sempre bem acompanhado. O comum das pessoas achavam-lhe graça e ao mesmo tempo um laivo de tristeza silenciosa e que atestava a sua condição.Havia uma senhora ( peixeira ) que todos os anos ia a Fátima, peregrinando a pé. Já não recordo o seu nome. Um certo dia convidaram o Zé: Recordo sim que estávamos nos anos sessenta. A história foi-me contada.Ao Zé incumbiram de vender velas e pelo que sei o Zé foi roubado ; logo não acreditaram e o nosso personagem ficou, como sendo ladrão.Alguém se aproveitou da sua figura e nada abonatória para o ZÉ GAVETAS. Acreditem : O Zé com a sua simplicidade quase infantil, nunca mais foi o mesmo !...Levou com ele prá cova uma grande mágua! Penso eu !..

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