domingo, junho 15, 2008

Castelo Branco na História XXVIII

(Continuação do número anterior)

No século XVI foi fundado junto da ermida um conventinho para seis religiosas, por testamento de Rodrigo Rebelo, esforçado cavaleiro que exerceu na Índia o cargo de 1º capitão de Côa, para o qual nomeado pelo vice-rei Afonso de Albuquerque, tendo sido morto às lançadas pelos indígenas, num combate que foi pormenorizadamente descrito por Damião de Góis na Crónica do Felicíssimo Rei D. Emanuel.
Frei Manuel da Encarnação, do mosteiro da Graça, refere-se à fundação do conventinho da Nossa Senhora de Mércoles numa carta, datada naquele mosteiro em 18 de Junho de 1784, que dirigiu ao seu amigo e condiscípulo António de Azevedo Velho Galache, com o objectivo de esclarecer esse descendente de Rodrigo Rebelo de que não tinha qualquer direito a reivindicar no convento Graça, cuja a igreja também havia sido fundada, com os bens do mesmo testador, pelos seus herdeiros.
Narra essa carta, que foi arquivada na Câmara Eclesiástica, que Rodrigo Rebelo legou os seus bens a sua irmã Maria Rebelo para que ela mandasse erigir em Mércoles e sustentasse com os rendimentos daqueles bens um pequeno convento para seis religiosas.
Em vez de cumprir as disposições do testamento, dotou a herdeira um filho e duas filhas com a totalidade dos bens herdados, mas, decorridos algum Tempo, passou a ter uma existência amargurada pelos reparos e pelas recriminações dos seus confessores. Foi então aconselhada, pelo seu genro Fernando Pina, a mandar construir seis celas térreas em Mércoles e a albergar nelas seis frades capuchos que não viviam de rendas por descriminação da respectiva ordem. Aceitou Maria Rebelo a sugestão de seu genro mandando erigir as seis celas e promovendo a sua ocupação por outros tantos frades capuchos.
Estes religiosos, porém, abandonaram o conventinho logo que tiveram conhecimento de que o testador o havia dotado com rendas que eles não podiam usufruir. O rei D. João III, ao ser informado de que as disposições do testamento não haviam sido integralmente cumpridas, ordenou a entrega do convento aos frades do mosteiro da Graça para que eles reivindicassem as fazendas que haviam sido pertença de Rodrigo Rebelo, algumas das quais passaram para a posse daquele mosteiro. Para alivio da sua consciência, a herdeira Maria Rabelo fez ao convento da Graça algumas doações e mandou erigir junto dele uma igreja, da qual existe ainda um portal manuelino tendo ao lado uma legível inscrição em latim destinada a perpetuar o nome do testador e dos seus herdeiros.

PS . O texto é apresentado nesta página, tal qual foi escrito na época.

Publicado no antigo jornal Beira Baixa em 1951
Autor. M. Tavares dos Santos

O Albicastrense

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