segunda-feira, fevereiro 09, 2009

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - XI


A rubrica Efemérides Municipais, começou por ser publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal A Era Nova transitou para o Jornal A Beira Baixa em Abril de 1937 e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro.
António Ribeiro Cardoso,
ARC ” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.

O texto foi escrito neste blogo, tal como foi publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
Comentário do autor: De 1700 até fins de 1710 não aparece nada que vala apenas fazer menção. Nos primeiros dias de 1711 os vereadores que vinham servindo de anos anteriores, como a pauta dos novos vereadores se demorava um pouco, não estiveram para cruzar os braços e deixar correr; começaram a nomear a tordo e a direito juízes para todas as freguezias e ao mesmo tempo “thizoureiros e depositários de quais quer depósitos”. No dia 16 de Janeiro, porém, apareceu a pauta dos novos vereadores e procurador do concelho e desde logo “ ouverão por reclamadas todas as nomeações que nesta tinhão feito de thisoureiros e depositários de quais quer depósitos ”. Pelo que se vê, já nesse tempo era verdade que nem por muito madrugar amanhece mais cedo. Pelo que se vê, já nesse tempo era verdade que nem por muito madrugar amanhece mais cedo.
Os vereadores para este ano eram Pedro Freire Corte Real, Agostinho
Botelho da Costa e Simão Caldeira Castelbranco, e procurador do concelho era Joseph Martins Mercader, que pouco depois nos aparece com o nome de Joseph Martins Goulão. Pouco depois regista-se que desde o princípio do ano tinham sido mortos lobos em abundância.
Assim, encontramos que foi feito num intervalo de poucos dias toda esta mortandade;
Simão Nunes, pastor do capitão mayor desta villa ”, matou uma loba.
António Martins, da Lousa matou um lobo nos barros de São Giraldo ” .
Manuel de Sousa, de Escalos de Baixo, matou um lobo “ no sítio do Ribeiro
Traveceiro e matou outro no sitio de Val das Colmeas ”.
Francisco Gonçalves Valente e André Fernandes, de Castelo Branco mataram três lobos “ no carrascal da fonte das freiras da parte dalém do Rio ponsul ”.
Manuel Rodrigues Quelindro, de Castelo Branco, matou “ um lobo na Coutadinha lemite de Cafede ”.
António Fernandes Carvajalles e Francisco Marques, de Escalos de Baixo, apanharam uma ninhada de sete lobos piquenos nos matos das poupanas do lugar da Mata ”.
Estevão Nunes, de Alcains, também conta de “ uma ninhada de seys lobinhos piquenos no sitio da ponte pedrinha junto ao pizão de Diogo Mendes pinheiro ”.
Lourenço Martins e Antonio Gomes “ creados de António Gonçalves Temperado de Alcains e Domingos Pires Figueira desta villa mataram um lobo grande na ervage dos Frades dos Alvarinhos que está na folha da liria lemite desta villa ”.
Faça-se por aqui ideia da quantidade de lobos que andavam por esse concelho fora. Devia ser um pavor, atendendo a que foi possível matar todos aqueles bichos num prazo tão curtíssimo com espingardas que, sem dúvida, estavam longe de ser modelos de precisão de tiro e sem entrar nos matagais que se estendiam por esse concelho além. As colheitas de 1710 tinham sido uma verdadeira miséria e por isso o pão tinha, para o tempo um preço elevadíssimo. Então os officiai de Camara ”, em sessão de 6 de Março;
Acta de 1711: “ mas acordarão havendo respeito ao escecivo preço de mil e duzentos reis por que vale otrigo da terra que as padeiras vendão a trinta reis cada pão que terá meyo arrátel de pezo e o do mar venderão avinte reis oqual farão do pezo de Seis onças por valer comum mente a nove centos reis eque outro sim vendão o pão de centeio de meyo arretel por hum vintém a respeito do preço de oito centos reis por que vale cada alqueyre oque tudo assim mandarão que se observasse inviolavelmente sob penna daque faltasse aesta observância se executaria nella as pennas da ley neste cazo impostas ”.
Comentário do autor; Se atendermos ao valor da moeda, sem esforço chegaremos a apurar, que aos mil e duzentos reis que custava cada alqueire de trigo da terra, corresponderia hoje mais alguma coisa do que cinquenta escudos. Façam as contas para as outras espécies e terão de reconhecer que a apregoada carestia da vida de hoje não é nada que se compare com a daqueles tempos. Nesta mesma sessão volta-se de novo ao curioso imposto pago em cabeças de pardais, mas desta vez a postura era um pouco mais apertada. Os vereadores acordarão;
Acta de 1711: “ que toda apessoa desta Vila e seu termo daqui athe ofim de Abril mate sinco pardais ao quais hirão descarregar a caza do escrivão desta Camara sob penna de quinhentos reis para as despezas della pagos da cadea”.
Comentário do autor; Nos outros anos pagava-se simplesmente a multa e ficava-se quite com a fazenda municipal; agora é nada menos do que multa e cadeia. E aos juízes dos lugares do termo fazia-se constar que tivessem muito cuidado, que tomassem a rol todas as pessoas que lhe aprezentassem os ditos pardais ” além disse;
Acta de 1711: “ os dittos juizes virão a esta Camara dar o rol das pessoas que os matarão sob pena de se proceder contra elles e não servirá de exemplo para os mais annos por quanto são obrigados os moradores villos entregar acaza do escrivão desta Camara ”.
Comentário do autor: O caso era sério. Ficassem sabendo os juízes que se não abrissem bem os olhos, se não fizessem o serviço bem feito, responderiam pelas transgressões que deixassem passar. E, como os juízes das freguesias, apesar do que podia acontecer-lhes se não dessem boa conta do recado, deixavam na Camara a desconfiança de que eram uns passa culpas, ficassem sabendo que para os outros anos não ficariam encarregados de receber os pardais e vir “ dar o rol das pessoas que os matarão”; isso acabava; deste ano em diante os moradores eram obrigados a vir entregar os pássaros malfazejos a casa do escrivão da Camara.
Quatro dias depois, em sessão de 10 de Março, a Camara procura acudir á falta de pão e para isso;
Acta de 1711: “ Acordarão pella grande falta de pão que geralmente há nesta villa que os Almocreves e Burriqueiros della sejão noteficados para que todas as semanas tragão da villa de Abrantes para esta as bestas que cada hum tiver carregadas de pão esal ou seu ou de particulares que otem na dita villa de Abrantes sob penna de que faltar pagar por cada vês quatro mil reis que pagarão de cadea ou elles ou suas mulheres eas dittas cargas que trouxerem manifestarão perante o Doutor juis de fora e faltando alguma das ditas pessoas poderá ser denunciada por qualquer official de vara misteres ou tendeiros que levarão metade desta condenação que julgara o dito Doutor juis de fora ”.
Comentário do autor: Parece duro, mas havia fome e já o lobo da fábula dizia que a fome é lei. Os almocreves ou burriqueiros haviam de ir a Abrantes e voltar de lá, uma vez por semana, com as suas bestas carregadas de pão ou de sal. Não havia desculpas que valessem. Se não viessem com as betas carregadas, pagavam quatro mil réis e iam para a cadeia. Prevendo, porém, a hipótese de o almocreve não aparecer e não se lhe poder por isso deitar a mão, era a mulher que pagava a multa e ia malhar com os ossos na cadeia. Era de respeito. Mas, admitindo-se que podia haver algum almocreve ou burriqueiro espertalhão que, por artes mágicas, se furtasse ao olho vigilante dos vereadores e do juiz de fora, aguçava-se o apetite aos denunciantes, dando-lhes metade das multas. Assim, era de ver que não escapava nenhum. Mas em Abrantes haveria pão? Devia haver, porque aquela antiga vila foi sempre um alfobre de negociantes e o Tejo servia-lhes de meio fácil e seguro de transporte para o “pão do mar” isto é… para o que vinha de fora em barcos. (ARC)
Ps – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937. Modificar, emendar ou alterar estes artigos seria na minha perspectiva um insulto ao seu autor.
(continua)
O Albicastrense

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