sexta-feira, outubro 26, 2012

GIL VAZ LOBO FREIRE


Ao consultar o livro de Maria Adelaide Neto Salvado, sobre a Capela de Nossa Senhora da Piedade, deparei-me com o nome de Gil Vaz Lobo. Personagem que foi enterrada no centro da capela-mor da ermita que na altura de chamava de S. Gregório, e que mais tarde viria a chamar-se, Capela de Nossa Senhora da Piedade. Tentei saber um pouco mais do homem que deixou em testamento, as seguintes disposições:
Celebração de 1000 missas por sua alma (200 das quais deveriam ser ditas em altar privilegiado). Dizia ainda no seu testamento; no dia do seu enterro, todos os sacerdotes que estivessem presentes diriam missa e recebendo “por esmola um tostão”; e igualmente determinou que nesse mesmo dia fosse dada a cada pobre que o acompanhasse “um tostão e uma vela”; e que quando fosse tempo, se transladassem os seus ossos para a capela da sua quinta de Odivelas e que nesse dia se fizesse, por sua alma, um ofício com missa cantada”.
Após alguma procura, encontrei no blog de história militar dedicado à Guerra da Restauração, o seguinte.

GUERRA DA RESTAURAÇÃO
Blog de História Militar dedicado à Guerra da Restauração ou da Aclamação, 1641-1668

Gil Vaz Lobo Freire – herói e vilão

Gil Vaz Lobo Freire, filho de Gomes Freire de Andrade e de D. Luísa de Moura, foi um dos mais incensados nomes do período da Guerra da Restauração. Participou com o seu pai no 1º de Dezembro de 1640, tendo sido um dos nobres insurrectos que procurou no Paço a Duquesa de Mântua, para a obrigar a abdicar do cargo de Vice-Rainha de Portugal. Tivesse a Duquesa o dom da premonição, teria razões de sobra para ficar muito preocupada com o jovem espadachim que lhe saíra ao caminho, cujas atitudes no futuro – durante a Guerra da Restauração – demonstrariam uma profunda indiferença pela vida humana. A par da bravura e valor no campo de batalha, Gil Vaz Lobo (é assim que é referido em quase todos os documentos) deixaria um rasto de crimes, que a sua posição social e influência na Corte conseguiriam, todavia, deixar impunes, livrando-se de condenações que pareciam tão severas como certas.
O nobre beirão cedo iniciou a sua carreira militar. Em Fevereiro de 1642 recebeu a patente de capitão de infantaria, passando a servir em Campo Maior com o seu pai. Em Novembro de 1645 foi promovido a capitão de cavalos, continuando a servir no Alentejo. A par das referências elogiosas às qualidades militares do oficial, surgem alusões ao seu carácter violento e criminoso. Os exemplos que aqui trago dizem respeito ao ano de 1652, onde num curto período Gil Vaz Lobo se viu a contas com a justiça por causa de vários crimes. No início desse ano, um grupo de mulheres de Campo Maior, encabeçado por uma Catarina Gomes, enviou uma carta ao Príncipe D. Teodósio, queixando-se da conduta de Gil Vaz Lobo e de outros militares. Quando, em carta datada de 21 de Março de 1652, o Príncipe ordenou ao mestre de campo general do Alentejo, D. João da Costa, e ao auditor geral do exército da mesma província, que abrissem um inquérito (uma devassa, como então se dizia) aos motivos da queixa, já era tarde demais. No livro de registos, à margem da cópia da carta, surge um acrescento recomendando que se iniciasse uma devassa à morte de Catarina Gomes.
Em Abril já Gil Vaz Lobo se encontrava na província da Beira, onde o governador das armas do partido de Penamacor (ou de Castelo Branco, como também era referido) D. Sancho Manuel pretendia nomeá-lo para o posto de comissário geral da cavalaria. A carta de 20 de Abril propondo o nome de Gil Vaz Lobo, enviada ao Príncipe D. Teodósio e observada no Conselho de Guerra, acabou por trazer à discussão os crimes recentes do oficial, que não se resumiam ao acontecido em Campo Maior. No entanto, os próprios conselheiros pareciam dispostos a fechar os olhos à conduta do capitão de cavalos e inclinavam-se para a aceitação da promoção, deixando à Coroa a última palavra. Segue-se a transcrição da consulta:
Nesta carta apresenta Dom Sancho Manuel a Vossa Alteza a grande necessidade que a cavalaria do seu partido tem de oficial maior que a governe porque, por falta dele, tem sucedido e sucedem muitas desordens com a liberdade que os soldados tomam, e pouco respeito com que procedem por não terem cabo maior a quem temam, arriscando-se por esta causa muitas vezes a mesma cavalaria e a reputação das armas de Sua Majestade e Vossa Alteza quando sucede ir buscar ao inimigo, ou em nossa defensa, ou em ofensa sua. E por todas estas razões pede Dom Sancho à Vossa Alteza se sirva de nomear para o posto de Comissário geral da cavalaria do seu partido a Gil Vaz Lobo porque, por seu valor e pelo conhecimento que tem daquela campanha, e por suas partes merece que Vossa Alteza o honre e lhe faça mercê, porquanto a Dom João Flux [capitão de cavalos alemão], a quem Sua Majestade foi servido de encarregar o governo dela, lhe sobrevieram tantos achaques que está impossibilitado por razão deles para exercitar o governo dela, e incapaz para montar a cavalo, havendo pouco de um ano que o não faz.
Vendo-se em Conselho a carta de Dom Sancho, pareceu fazer presente a Vossa Alteza a resolução que Sua Majestade tem tomado, de que os criminosos, enquanto não estiverem livres dos crimes que se lhe imputam, não possam ser providos em postos. E que Gil Vaz Lobo se livra de alguns crimes no juízo da assessoria deste Conselho em três processos, um deles sobre a morte de um homem sucedida em Estremoz, pela qual está sentenciado em final em pena de cinco anos de degredo para o Brasil e guerra de Pernambuco, e em duzentos mil réis para a parte com pregão em audiência. Esta sentença se não tem tirado do processo até agora, nem executada por não haver parte que o requeira.
Os outros dois processos são sobre o ferimento feito ao corregedor Sebastião Vieira de Matos e morte do seu escrivão; estes estando conclusos a final, se mandou acabar de tirar em Campo Maior certa devassa de outros casos em que também é culpado, e correr folha em Elvas, esta diligência há dias que se cometeu por cartas de Sua Majestade ao mestre de campo general e ao auditor geral em segredo, e até agora se não tem satisfeito a ela, e por se esperar resposta, se não acabam de sentenciar estes dois feitos.
Por ser este o estado em que se encontra o livramento de Gil Vaz Lobo, pareceu também ao Conselho representar a Vossa Alteza que se houver lugar de se poder dispensar no impedimento que Gil Vaz tem (conforme a resolução de Sua Majestade que fica referida) para haver de ser provido em posto, estando criminoso; e Vossa Alteza tiver por conveniente habilitá-lo para ir servir de comissário geral da cavalaria deste partido, será mui bem empregado nele todo o favor e mercê que Vossa Alteza nisto lhe fizer, por o merecer por seu valor e pelo zelo com que tem servido, e também por ter préstimo, experiência e particular génio para ocupar aquele posto. Lisboa 14 de Maio de 1652.
Entre os crimes cometidos no Alentejo a que a consulta se reporta, um é certamente o que envolveu a morte de Catarina Gomes, e os outros, os que originaram a queixa anterior ao desaparecimento da infeliz mulher. Apesar disso, prevaleceu a influência da poderosa linhagem dos Freires de Andrade, e Gil Vaz Lobo Freire não foi muito apoquentado pelos processos em que estava envolvido. Em Agosto de 1659 foi nomeado governador da cavalaria da Corte e comarcas do Ribatejo, sendo já nessa altura tenente-general da cavalaria da Beira.
Em Maio de 1669, mais de um ano após o final da guerra, Gil Vaz Lobo foi nomeado governador das armas da província da Beira pelo regente D. Pedro (futuro D. Pedro II). Viria a falecer em Castelo Branco em 1678.
Fontes: ANTT, CG, Secretaria de Guerra, Livro 16º, fl. 15; Consultas, 1652, mç. 12, consulta de 14 de Maio de 1652.

Ps. Seriam as mil missas e as esmolas, uma forma de pagar algumas das atrocidades que Gil Vaz Lobo cometeu ao longo da sua vida?
O Albicastrense

7 comentários:

  1. Boa pesquisa,

    Desconheço grande parte da história da minha terra, mas felizmente "O Albicastrense" vai colmatando essas lacunas!

    Um grande bem-haja!

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  2. BATISTA14:25

    Batista disse.
    Verissimo este post é uma confusão.
    Gil Vaz Lobo não tinha Freire no nome
    confundis-te alguns personagens.

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  3. António Veríssimo disse...
    Este comentário foi feito no facebook e transportado para o blog. Filo por entender que seria aqui que lhe devia dar resposta, independentemente de ter dado resposta também no facebook.

    Veríssimo este post é uma confusão.
    Gil Vaz Lobo não tinha Freire no nome, confundis-te alguns personagens.

    Batista a que confusão te referes? Embora não seja conhecedor experto nesta matéria, não vejo nenhuma confusão neste documento histórico.
    Dizes que ele não tinha Freire no nome, contudo autora do site que me indicaste, diz o seguinte: “O nome nela gravado é Gil Vaz Lobo Freire, mas ele não tinha o apelido “Freire”, embora esse fosse também um apelido da sua família. Em documentos oficiais nunca aparece o Freire”.

    Dizes ainda que confundi personagens!.. Quais!?
    Pois se assim for... o tal blog sobre a guerra Militar da Restauração, cometeu algumas "gafes", coisa em que não acredito.

    Os dados não são meus, mas do Blog de História Militar dedicado à Guerra da Restauração ou da Aclamação, 1641-1668.

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  4. João.
    É sempre bom conhecer-mos a nossa história, mesmo quando se trata de pessoas que nos possam causar alguma consternação.
    Coisa que parece ser o caso deste; Gil Vaz Lopo.
    Abraço

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  5. Anónimo23:25

    Boa noite António Veríssimo, em primeiro lugar os meus parabéns pelo seu blog. Tenho investigado a vida e obra de Gil Vaz Lobo Freire que como refere foi sepultado primeiro na Capela de São Gregório em Castelo Branco que posteriormente teve o nome de Nossa Senhora da Piedade, onde tem uma campa. Posteriormente como deixou escrito no seu testamento, deixou os seus bens a sua irmã para a construção de uma Capela de invocação a Nossa Senhora do Monte do Carmo, para onde o seu corpo foi transladado em 1695, e onde existe a sua sepultura. Se consultarmos as fontes primárias da época ficamos a saber que o seu nome era Gil Vaz Lobo Freire como diz, porque era filho de Gomes Freire de Andrade, tendo participado com o seu pai como um dos conjurados na Restauração de Portugal de 1 640, e nas guerras que se seguiram durante mais 28 anos nas fronteiras entre Portugal e Espanha. Um dos documentos que consultei para confirmar o seu nome foi a Pedatura lusitana (nobiliário de famílias de Portugal), mas existem outros documentos que confirmam este nome.

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  6. Anónimo23:28

    Esta capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo está integrada no edifício da Biblioteca Municipal D. Dinis, que fazia parte da sua Quinta como nome de Nossa Senhora do Monte do Carmo.

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  7. Anónimo23:31

    na cidade de Odivelas.

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