AMOR E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
História da Lápide Sepulcral
Biface - (1ª parte)
(Continuação)
Assento 18 (S2-10, fl.478) –
A Excelentíssima Senhora D. Joana Maria Josefa de Meneses, mulher
do Excelentíssimo Senhor D. Brás Baltazar da Silveira, Governador das Armas desta Província,
faleceu a vinte dias de Novembro de 1726 e está sepultada nesta igreja de S.
Miguel, em sepultura de fábrica, de que fiz este assento que assinei dia, mês e
era «ut supra». O Vig° encomendado
João Rodrigues Goulão. À margem
esquerda: - Declaro que a sepultura é própria por se dar por ela a esmola
costumada de 8000 réis para a fábrica, com autoridade de Sua Ilustríssima (o que consta do Livro da Fábrica) /
Goulão.
À margem direita: - Declaro também que na mesma
sepultura em que foi sepultada a Ex. ma Senhora D. Joana (de cujo óbito é este
Assento) foi sepultado juntamente um filho, de cujo parto faleceu Goulão.
Outro Adiantamento: - Esta sepultura foi aberta, como consta do Assento fl. 486v /
Corugeiro.
Assento 19 (Ibid., fl. 486v)
- Aos vinte dias do mês de
Setembro de 1728, se abriu a sepultura em que foi sepultada a Ex. ma Senhora D.
Joana Maria Josefa de Meneses, cujo Assento está a fl. 478. E, constando da
identidade dela e do corpo da dita Ex.ma Senhora, se tornou a fechar com campa
de pedra inteiriça, com suas armas e letreiro que declara estar ela ali sepultada,
de que tudo se fez Auto assinado pelos que estiveram presentes e de que fiz
este Assento demandado de Sua Ilustríssima dia, mês e era «ut supra» / O vigº Manuel Rodrigues Corugeiro.
Comentário
No Assento 18, vemos o registo de óbito de D. Joana Maria Josefa
de Meneses, filha segunda dos 2º condes de Santiago de Beduído e primeira mulher
de D. Brás Baltazar da Silveira, então Mestre de Campo General dos exércitos de
Sua Majestade (D. João V) e Governador das Armas da Província da Beira. Este
casal pertencia à alta nobreza do reino e assistia, temporariamente, na vila de
Castelo Branco desde meados de 1721... Aqui lhes nascera, a 6.2.1722, sua 2ª
filha D. Luísa Amónia Francisca da Silveira (a 1ª, D. Leonor da Silveira, havia falecido com poucos meses, a 3.2.1721);
a 3ª filha, D. Maria Inácia da Silveira, fora baptizada na praça de Almeida, a 18.2.1723;
desta vez seria o primeiro filho mas a adversidade negou-lhe a existência bem
como a sua mãe.
Os corpos da infeliz dama e do fruto do seu amor ficaram pois
depositados (a 20.11.1726) na igreja de S. Miguel, em sepultura de fábrica
adquirida por 8000 réis... Através do Assento 19, sabemos que cerca de dois anos
mais tarde, a 20.9.1728, procederam à abertura daquela sepultura e, depois de
revista e identificados os restos mortais de D. Joana, «se
tornou a fechar com campa de pedra inteiriça, com suas armas e letreiro que declara
estar ela ali sepultada».
Na ausência de outros elementos documentais mais esclarecedores,
não podemos deixar de nos interrogar sobre o motivo de tal diligência. No
entanto, a resposta parece simples e de certo modo convincente: - D. Brás
Baltazar da Silveira, ainda viúvo e no exercício do referido cargo, quis honrar
a jazida da mulher, mandando colocar sobre ela uma campa que dignamente
perpetuasse a sua memória.
Efectivamente, o artista encarregado deste trabalho esculpiu na
face exposta da laje granítica, com 2,14 m de comprido por 0,86 metros de largura
e 0,23 metros de espessura, uma bem ordenada composição repartida por duas partes.
Assim, na de cima lavrou o escudo com as armas da família de D. Joana e, por baixo,
a epígrafe latina cujo teor é o seguinte (emport.):
- «D. Joana Maria Josefa de Meneses,
digníssima filha do conde de Santiago, amantíssima esposa de D. Brás Baltazar
da Silveira, Governador das Armas desta Província, muito prendada na verdade por don segrégios e dignos na mulher
ilustre, mas mais ilustre pela piedade e por outras virtudes de Senhora cristã (a
honra mais digna), morreu de hemorragia puerperal no dia 21 de Novembro de 1726
e, juntamente com o filho da (sua) dor, aqui está sepultada». (27)
Esta lápide ainda bem conservada foi escolhida pela organização
das nossas jornadas, em 1991, para servir de figura alegórica ao tema: O Amor e
a Morte na Beira Interior. Mas, como veremos a seguir, sobre ela há mais coisas para
contar...
(Continua)
O Albicastrense
(Continua)
O Albicastrense
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