AMOR
E A MORTE... NOS ANTIGOS REGISTOS PAROQUIAIS ALBICASTRENSES.
Por Manuel da Silva Castelo Branco
Por Manuel da Silva Castelo Branco
VII -
Retrato de uma Jovem Matrona Albicastrense dos
Começos
de Setecentos.
(Continuação)
Assento 15 (S2 - 3B, fl. 34) - Francisca, filha de Afonso da Gama Palha
natural da cidade de Elvas e de sua mulher D. Ana Maria da Silva Sotomayor
desta freguesia e primeiro matrimónio, nasceu aos 22 de Outubro de 1695 e foi
baptizada aos 6 dias do mês de Novembro da dita era pelo P. Manuel de Valadares
Sotomayor prior do Teixoso e tio da dita baptizada, de minha licença.
Foram
padrinhos o desembargador Luís de Valadares Sotomayor e D. Francisca Sotomayor,
respetivamente, avô e tia da dita baptizada.
E, para
constar, fiz este assento dia, mês e era «ut supra» / O Vig°. Frei João
Marques.
Comentário
Assim se acha registado o nascimento de D. Francisca Xavier Filipa da Gama Sotomayor, filha única e herdeira da casa de seus pais, pertencentes a famílias nobres do reino. Contando quási 14 anos de idade, casou em Elvas a 31.7.1709 com D. João de Aguilar Mexia de Avilez e Silveira, natural de Arronches, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo e familiar do Santo Oficio, filho de D. Afonso de Aguilar Monroy e D. Filipa Maria de Sequeira.
Assim se acha registado o nascimento de D. Francisca Xavier Filipa da Gama Sotomayor, filha única e herdeira da casa de seus pais, pertencentes a famílias nobres do reino. Contando quási 14 anos de idade, casou em Elvas a 31.7.1709 com D. João de Aguilar Mexia de Avilez e Silveira, natural de Arronches, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo e familiar do Santo Oficio, filho de D. Afonso de Aguilar Monroy e D. Filipa Maria de Sequeira.
Casamento tratado pelos pais dos
noivos e que iria florescer como se de amores tivesse nascido. Viveram em Elvas
com grande Casa e numerosa descendência, mas D. Francisca seria vítima de
trágico acidente, quando se consumavam sobre a data desta feliz união 14 anos,
2 meses e 9 dias, «sem que em todo este tempo houvesse entre ela e seu marido o
mínimo desgosto, discórdia ou hora de arrependimento mas antes se trataram
sempre em admirável paz com a mesma ternura e fineza quase pratica entre os
noivos»...
Autorda época deixou-nos um relato pormenorizado e interessante acerca
desta família, onde destaca por forma singular a figura da jovem senhora, que
retrata do seguinte modo:
- «De corpo gentil, branca e corada como uma rosa,
cabelo bem
povoado e mais louro que castanho, olhos pequenos mas vivos e em todas as mais
feições, com proporção engraçada, se compunha de uma particular beleza. Participava mais luz o seu entendimento do que costuma caber na esfera
do discurso de mulher; modo grave e senhoril, sem deixar de ser afável; airosa e
bem prendada no tratamento de sua pessoa; benigna e prudente de condição;
vigilante com a sua família e cuidadosa no governo dela.
No
público sabia ser senhora e, no particular da sua casa,
especulativa e laboriosa, unindo felizmente os dois extremos de ter governo e
ser liberal. Era agradecida e primorosa e, sobretudo, fidelíssima à veneração
de seus pais e ao amor e estimação de seu marido. Sem exemplo na doutrina e
educação de seus filhos pois amando-os com o maior carinho, como se fora só um
o objecto do seu amor estando igualmente repartido por dez, os ensinava em religiosos costumes, com a mais
severa disciplina; instruía-os na reverência e temor de Deus, na boa e importante união entre si e na estimação de suas pessoas, sem desprezo dos
próximos ou menos agrado com todos; que fossem brandos e bem aceites aos seus familiares e que tivessem horror aos vícios. Trouxe
sempre diante dos olhos a observância da lei de Deus, frequentava os
Sacramentos e tinha contínuas devoções; punha especial cuidado em que a sua
família vivesse conforme as obrigações de cristãos e em remediar as
necessidades dos pobres, com ardente caridade. Gostava muito de tratar as pessoas,
que reconhecíamos de virtude; foi de alegre conversação e de génio aprazível; e
sendo, finalmente, um composto de perfeições que a conduziam a merecer o título
de matrona e a parecer singular entre as mulheres e senhoras do seu tempo; e
das mais capazes de viver no mundo, sendo nele tão precisa para a criação de
dez filhos inocentes (dos quais, o mais velho contava 12 anos, o último, não
bem completos 4 meses) e para o conduto da vida de seu marido, consolação de sua mãe, complacência de seus parentes e felicidade de toda a sua Casa... Veio a morrer na flor da sua idade, com 28 anos menos três dias, em 19 de Outubro de 1723, uma terça-feira, pelo caso mais fatal e como uma das desgraças
mais infaustas que se têm representado no triste teatro deste mundo»... (24)
Efetivamente,
na ausência do marido e do filho mais velho (em viagem para Portalegre e
Castelo Branco), D. Francisca decidiu ir passar a tarde daquele dia na sua quinta da Serra do Bispo, no termo de Elvas.
Jornada de recreio, aproveitando
a companhia da mãe e de duas filhinhas; e ali permaneceram durante algumas horas... No regresso, quando a seu pedido o cocheiro parou e desceu a fim de abrir a cortina dianteira, as mulas desataram numa corrida desenfreada e D. Francisca foi projetada para o meio da estrada.
Embora não
apresentasse qualquer ferimento, expirava poucos momentos depois, já nos braços
da mãe e rodeada pelas filhas, que saíram ilesas deste trágico acidente...
(Continua)
O
Albicastrense
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