Quando Neste Mundo só era Feliz
o que Acertava Morrer bem.
o que Acertava Morrer bem.
(Continuação)
Assento 22 (S2 - 10, fl. 522v) - Francisco Rafeiro, natural desta vila,
faleceu com todos os sacramentos em os 26 do mês de Janeiro de 1738. Fez
testamento, em que deixou 1500 missas por sua alma e outras mais por parentes,
e outros legados mais; e, ultimamente, instituiu a sua alma por herdeira e
vinculou a sua fazenda com obrigação de missas por sua alma, como consta do
mesmo testamento. E, para constar, fiz este assento que assinei dia, mês e ano «ut supra».
(Declaro que foi sepultado nesta igreja em
cova de fábrica). / O Vig° Frei Manuel Rodrigues Corugeiro.
Comentário
O L. do
Francisco Rafeiro, natural de Castelo Branco e baptizado na igreja de Santa
Maria a 21.2.1661, era filho do boticário António Vaz Mendes e de sua mulher D.
Branca Rafeiro. Frequentou a Universidade de Coimbra, onde se matriculou em
Medicina a 1.10.1681 e concluiu o seu curso a 26.6.1687, passando ao exercício
da clínica médica na terra natal e ali falecendo, solteiro, a 26.1.1738 (Assento 22).
Seguindo a
inspiração e o exemplo de outros varões ilustres, o Dr. Francisco Rafeiro
deixou o seu nome ligado a diversas ações de benemerência. Assim: legou à
Misericórdia de Castelo Branco todos os bens de raiz; instituiu ainda um legado
de 100000 réis para dote de casamento de 5 órfãs; doou as suas casas «novas e
nobres», sitas na Rua do Postiguinho de Valadares, para vivenda dos párocos de
S. Miguel; custeou a magnífica obra de azulejo, levada a cabo na antiga ermida
de S. Gregório (atualmente, capela de
Nossa Senhora da Piedade).
Por tal
motivo, no pavimento da referida capela e defronte da porta travessa, foi
gravado em azulejo o seguinte letreiro: - Esta obra de azulejo e / Pavimento se
fez com o /dinheiro do doutor Francis/co Rafeiro já defunto p/e de se um P.
Nosso Ave-maria pela sua alma / 1739. (35)
Por se
encontrar doente e «com excessiva dor no braço direito», não pôde o Dr.
Francisco Rafeiro redigir o seu testamento, lavrado a 26.12.1737 pelo patrício e
amigo, o Padre - Mestre Frei Manuel da Rocha, doutorado em teologia pela
Universidade de Coimbra, Abade Geral dos monges de Alcobaça, membro da Academia
Real da História, etc. Dele extraímos uma parte que consideramos muito
significativa.- «Em nome de Deus trino e uno, Ámen.
Este é o testamento
que faço eu Francisco Rafeiro, estando enfermo na cama e em meu juízo perfeito,
qual o mesmo Senhor foi servido de me dar. Primeiramente, encomendo a minha
alma a Deus, que a criou e a remiu como seu preciosíssimo sangue e em cuja
santa fé cristã fui criado, vivi e determino morrer, recorrendo às chagas de
meu Senhor Jesus Cristo para que, mediante elas, consiga perdão das minhas
grandes culpas.
Da mesma
sorte, rogo e peço à Virgem Santíssima da e dade a queira ter comigo, sendo
minha advogada e intercessora diante de seu unigénito Filho para que, quando a
minha alma se afastar do meu corpo e for chama da ajuízo, me assista a valha;
para que, por sua infinita misericórdia, se me conceda aquele sumo bem e
felicidade eterna de que gozam os seus escolhidos e santos...
Considerando
a pouca duração do mortal e que neste mundo só é feliz o que acerta morrer bem
que o corpo se deve dar à terra de que foi formado, ordeno e mando que, quando
Deus for servido de me chamar para si, seja o meu corpo amortalhado no hábito
de S. Francisco e sobre ele a véstia de meu Padre S. Pedro, de que sou indigno
irmão; e, assim, que me levem à igreja de S. Miguel e nela me sepultem, junto
quanto for possível das sepulturas em que jazem minha mãe e minha irmã e minha
sobrinha, que é junto do degrau do altar de S. Francisco Xavier
…. Mais
mando que, no dia do meu ofício, se dê a cada preso dos que se acharem na
cadeia um tostão de esmola e a cada enfermo, que então se achar no Hospital,
outro tostão... À Senhora da Piedade, minha especial advogada, deixo uma moeda
de ouro, que o meu testamento aplicará para aquilo que julgar mais necessário
para o seu altar”... (36)
(Continua)
O Albicastrense
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