NA
HISTÓRIA E NA ARTE
HISTÓRIA E NA ARTE
FANTÁSTICO PALÁCIO DOS COMENDADORES
DA
VILA DE CASTELO BRANCO
(Continuação)
A Casa do Infantado
foi fundada pelo Rei D. João IV, por alvará de 11 de Agosto de 1644, para ser desfrutada pelo filho segundo dos reis de Portugal e nela ingressaram os bens
confiscados aos fidalgos que se bandearam com a Espanha durante as guerras da
Restauração.
O palácio do
castelo foi também incorporado nesses bens. Em 1791 a Rainha D. Maria I uniu a
Comenda de Alcains à de Castelo Branco da qual era donatário o Príncipe do
Brasil. Pela leitura do auto lavrado em 1753, do qual se faz uma transcrição
integral por se julgar interessante pela exuberância, pode fazer-se uma ideia
do antigo palácio sabendo-se que uma vara equivalia ao comprimento de 1.099,
isto é, a 5 palmos de 0,2198.
“Medição e descrição do palácio dos comendadores de Santa Maria do
Castelo da vila de Castelo Branco.
Está o dito palácio fundado dentro do castelo da dita vila sobre um
monte em cujas faldas, para a parte nascente, está situada a vila de castelo
Branco. Entrando pela porta principal da muralha do dito
castelo, fica à mão direita junto da capela-mor da igreja de Santa Maria a
porta principal do palácio, que é de pedra de cantaria, e as suas portas de
madeira chapeadas de ferro, tem a dita porta de altura 3 varas, e de largura 2
e meia, e à entrada desta está um pátio que tem de comprimento 25 varas e 4
palmos, e de largo 15 varas e 4 palmos; à mão direita da entrada do dito pátio
está um quarto com balcão para onde se sobe por uma escada de pedra, de 12
degraus, e tem o dito quarto duas portas em cima do dito balcão, duas janelas
na sua parede que caiem sobre o pátio; e para a parte da vila tem viradas 3
janelas; era o dito quarto uma sala grande, e se acha ao presente dividida em 4
quartos, dois são de telha vã, e os outros forrados de madeira.
Há debaixo do dito balcão um arco de pedra por
onde se entra para a loja que serve de cavalariça, e tem todo o dito quarto de
comprimento 18 varas e 2 palmos, e de largo 6 varas e 1 palmo.
Há no dito pátio um jardim cercado de pedra de
cantaria de almofadas, que tem de largo 7 varas e 4 palmos, e de comprimento 9
varas e meia; tem algumas árvores de espinho, e à roda seus jasmineiros.
Fica o dito jardim debaixo da galeria que o dito palácio tem sobre o dito
pátio, que consta de 4 janelas rasgadas.
À parte esquerda da entrada do dito pátio está
uma cisterna com suas guardas de pedra de cantaria, e por esta mesma parte
cerca o dito pátio uma parede em que está uma porta que vai para uma cerca
detrás da igreja de Santa Maria, que tem de circunferência 152 varas e 4
palmos, e fica toda tapada com a parede da dita igreja pela parte por onde se
entrava para a tribuna que os comendadores tinham na mesma, e com a
muralha. Dentro da dita cerca estão umas casas térreas, que serviam
antigamente de armazém para o tesouro e munições de guerra: estão ao presente
quase arruinadas, tem duas portas para a cerca, e de comprimento 19 varas e 4
palmos, e de largo 4 varas.
Por cima da porta da cerca há um patim de
cantaria, do qual se sob para a escada principal da pátio, que tem 26 degraus
de pedra; e no cimo da dita escada, está outro patim coberto de forro de
madeira, sustenta-se sobre 3 colunas.
Na entrada há uma porta de 9 palmos de alto e 7
de largo por onde se entra para um recebimento lajeado de pedra sobre a
abobada, que antigamente era descoberto, e consta que servia de cisterna, que
tem 4 varas de comprido e 3 de largo, no qual estão duas portas, e se desce pela
da esquerda por uma escada de pau para uma casa térrea em que está uma
chaminé e um forno; e pela outra porta se entra para a sala da espera do
palácio, que tem duas janelas, uma de assentos e outra rasgada viradas para o
nascente, e uma chaminé, tendo de comprimento 10 varas, e 5 de largo.
Há nesta sala mais três portas, por uma das
quais se entra para um quarto que tem uma janela rasgada sobre o pátio; e deste
quarto há uma porta para outro que tem uma janela rasgada, e por ali se entra
por uma porta para um outro quarto com sua janela, e tem este 5 varas de
comprimento, e 3 e 2 palmos de largo.
Pela porta que está no canto da dita sala de
espera, se entra para uma outra sala com sua janela para o norte, tendo de
comprimento 6 varas e meia, e 5 e 4 palmos de largo. Tem esta duas portas, uma
à direita, que dá entrada para o ultimo quarto, e outra para a ultima sala com
duas janelas, uma para o norte e outra para o nascente, e uma chaminé, tendo 8
varas e meia de comprimento e 5 de largo; e havendo ainda outra porta por onde
se entra para um quarto ladrilhado de tijolo, que tem 5 varas de comprido e
outras 5 de largo.
Há no dito quarto três portas que dão entrada,
uma para a cozinha, que tem 6 varas de comprimento é 5 de largo, outra que dá
saída para a varanda do palácio, da parte do nascente, que é ladrilhada de
tijolo com sua guarda de parede pela dianteira, e pelos lados tem seus
alegretes para flores, tendo de comprimento 14 varas e 4 palmos, e de largo 4
ditas.
Estão os três quartos de que se fez menção
formados sobre três arcos de pedra, que estão ao presente tapados, á exceção de
um, pelo qual se entra ficando á mão esquerda um portado que dá entrada para
uma casa que fica debaixo do primeiro recebimento do palácio que é de abobada.
Defronte do dito arco está um portado de
cantaria lavrada, grande e magnífico, por onde se entra para uma sala que fica
debaixo da de espera, que é toda ladrilhada, e no meio tem um florão de
azulejo, tendo de comprido 10 varas e 2 palmos, e de largo quatro varas e dois
palmos; e nesta sala está uma porta para o norte, por onde se sai para um
passeio ladrilhado de pedra miúda e cercada de parede com seus alegretes de
roda, pelo que mostra que foi jardim, o qual tem de comprido 12 varas e de
largo 5.
No cimo da dita sala à direita da sua entrada
está outra porta por onde se entra para uma loja, que serve ao presente de
tulha; e defronte da casa de abobada há outra porta por baixo de um arco por
onde se entra para a tulha do azeite.
As paredes do palácio são todas mais altas do
que os seus telhados, e todas cercadas de ameias que forma a perspetiva da
torre da muralha.
Na forma referida é que está o sobre dito palácio e todo está suficientemente reparado sem ameaçar em
parte alguma ruína”.
Acentua-se que, em
Outubro de 1753, a antiga alcáçova ainda se encontrava em ótimo estado de
conservação.
(continua)
Recolha de dados: “CASTELO BRANCO NA
HISTÓRIA E NA ARTE”.
Da autoria de Manuel Tavares dos Santos
O
Albicastrense
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