Como a capela era imprópria, pela exiguidade das suas dimensões, para servir de matriz, os paroquianos requereram ao Papa Pio VII licença para a reedificação da igreja com os rendimentos da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, renunciando voluntariamente por dez anos aos dotes instituídos por Gaspar Mouzinho Magro para o casamento das órfãs. Alegavam que haviam ficado muito pobres com a invasão dos franceses.
Foi-lhes deferido o requerimento por breve apostólico de 1 de Maio de 1818, após o beneplácito régio de D. Maria II de 11 de Abril do mesmo ano. Não lhes foi possível concluir a obra nos dez anos previstos, os mordomos de Nossa Senhora de Rosário contraíram um empréstimo de 480$000 réis com o negociante António da Silva e, para ao liquidar e acabar a igreja, requereram ao governador do bispado de Castelo Branco, então sede vacante, para aplicar nas obras os rendimentos da capela de Mouzinho Magro “ por mais dez anos ou por aqueles que realmente fossem necessários”: Pela diocese foi-lhes prorrogada, em 3 de Maio de
A reedificação do templo ressentiu-se sobremaneira da penúria resultante das calamidades de que foram vitimas os habitantes da cidade no século XIX e da falta de gosto artístico da época. Não se encontra no edifício nada de notável, alem do lavatório da sacristia que, sendo delineado no estilo barroco, denota ter sido obra da segunda reconstrução empreendida no século XVIII.
A terraplenagem feita no século XIX na antiga cerca da alcáçova do castelo, para a construção do edifício destinado a escola e que é hoje utilizada como posto radiotelegráfico militar, soterrando parte das paredes do lado norte e obrigando ao entaipamento das portas laterais, prejudicou a conservação da igreja, tornando-a húmida e soturna.
No ano de 1950 foi o edifício beneficiado com uma grande reparação e hoje apresenta-se em bom estado: as suas paredes alvinitentes destacam-se das ruínas do castelo no outeiro sobrejacente à cidade.
Sem embargo de haver perdido o seu valor arquitectónico, não deixou este templo de ser venerável e digno de ser perpetuado: sendo coetâneo dos primórdios de Castelo Branco, o vetusto lajedo do seu pavimento cobre as cinzas de alguns antepassados ilustres e avoca-nos ainda os esplendores de antanho.
E os albicastrenses jamais poderão olvidar a circunstância de haver desenvolvido a sua terra natal, durante cerca de um milénio, sob o campanário da igreja de Santa Maria.
Publicado no antigo jornal Beira Baixa em 1951
Autor. M. Tavares dos Santos
O Albicastrense
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