segunda-feira, dezembro 01, 2008

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - VII


A rubrica Efemérides Municipais, começou por ser publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova” transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937 e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. 
António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.

O texto foi escrito neste blogo, tal como foi publicado em 1937.

Os comentários do autor e a totalidade da leitura das actas, não estão aqui na sua totalidade.
Continuação:
Comentário do autor.
As sessões da Câmara, que se seguem à de 30 de Junho de 1655, não oferecem sombra de interesse. Em Setembro, porém, o livro das actas é “visto em condições” pelo Dr. António Ferreira da Fonseca e os vereadores são duramente censurados por terem escolhido para almotacés pessoas sem categoria “pessoas maçanicas em as quais não cabe o cargo de vereador”, anula a eleição, manda que se proceda a outra, como de facto se procedeu, escolhendo-se então ”pessoa cujos pays e Avós tinhao servido os cargos nobres da Republica na forma da Ordenação”:

Mostra-nos estes factos, que por esses tempos não se fechavam os olhos, em obediência a conveniências pessoais. Quem reunia as condições necessárias para o exercício dos cargos continuava; se os não reunia, não havia protecção que lhe valesse. 

Assim, por exemplo, um dos almotacés era irmão do procurador do concelho António Martins Ruivo. Parecia por isso que estava bem apoiado, que a sombra do irmão bastaria para o segurar no cargo. 
Pois não lhe valeu de nada. Foi posto fora do lugar para dar lugar a outro escolhido na forma da ordenação. Mas, se os vereadores não puderam resistir à ordem que receberam para eleger novos almotacés (ou almotaceis, como se lê nos documentos da época é forma admissível!) que fossem “pessoas cujos pays e Avôs tinham servido os cargos novos da república”, não foi de vontade que se prestaram a faze-lo. Para disso nos convencermos basta observar que deixaram passar todo o mês de Setembro sem porem os pés na câmara, e só no dia 2 de Outubro deram sinal de si por forma:

Acta de 1655.
“Aos dous dias domes de Outubro de mil e seissentos esincoenta esinco annos nesta villa de Castelo Branco nas Casas da Camara dela em confirmidade dasentença do corregedor asima ojuiz de fora mandou que sefizese nova eleição naforma da ditta sentença estando presentes juiz dasilva Barrete o L, do tomaz de Carvalho dasilva Manoel dafonseca Coutinho vreadores Antonio Martins Ruivo procurador e logo na ditta Camara por aver hua listra sobre aditta eleição se dilatou até primeira Camara e por não aver mais que dsepachar naditta Camara a ouverão por feita acabada e asinarão”.
Comentário do autor.
Adiou-se a eleição por “aver hua listra”! A razão não foi essa, foi a má vontade com que a Câmara ia proceder a esse acto, má vontade manifesta, que salta aos olhos. Basta observar que a sessão imediata se realizou em 23 de Outubro, nada menos de vinte e três dias depois, e ainda desta vez a eleição dos almotacés se não fez! 
Se, porém, se não procedeu à eleição dos almotacés no dia 23 de Outubro, nem por isso na sessão desse dia deixa de aparecer alguma coisa de interessante, que vem mostrar-nos que os artífices do tempo não podiam estabelecer preços à sua vontade, estavam sujeitos a taxas que não podiam alterar sem licença da Câmara, que alias não deliberava á toa, antes procedia com toda a cautela e ponderação em defesa dos munícipes. Leiam, que é interessante:
Acta de 1655
“Elogo na ditta Camara vierão a maior parte dos officiais de sapateiros e Requererão se lhe fizese taxas novas em Rezão das mercadorias estarem caras ena a Camara se mandou que sedese juramento adous officiais para informarem dos presos pêra comforme aiso esta Camara fazer taxas: elogo namesma Camara (O mestre escrivão esqueceu-se do que aprendera e voltou a escrever Camera em vez de Camara como varias vezes já tinha escrito) elegerão Manoel frz e o pintainho do poço das covas e mandarão selhe dese juramento”. 
O que disseram o Manoel Fernandes e o Pintainho do Poço das Covas não se soube logo; sabe-se porém, que os mestres sapateiros teveram de esperar, continuando ainda algum tempo com as meias solas e as entrecóspias pelo mesmo preço. Nesta sessão ainda; “se elegerão pera derramadores da linha daponte de Riba-pinhel comarca de vizea a Rodrigo vas e Manoel São toninhas”.
Comentário do autor.
É interessante o facto, por que nos mostra como se vinha cá tão longe ver dos “derramadores” da linha da ponte de Riba-Pinhal. Mas, se os vereadores se mostravam ronceiros na escolha dos almotacés, que haviam de substituir os que foram destituídos do cargo, por fim sempre se resolveram a faze-lo. Foi na sessão de 24 de Outubro, ou seja vinte e quatro horas depois daquela em que os “officiais de sapateiro” apareceram a requerer taxas novas, alegando a carestia das mercadorias. 
A acta reza assim:“elogo na ditta Camera elegerão pêra almotaceis para servirem estes três meses outubro novembro e dezembro a Francisco Mouzinho e Sebastião damaya”.Estes estavam na conta. Eram pessoas cujos pais e avós tinham servido os cargos nobres da Republica. E é curioso observar que Francisco Mousinho, que pouco antes o corregedor não queria nem por um decreto que servise para “tisoureiro geral das desimas”, agora serviu para almotecé e ninguem lhe opos sombra de obstaculo. A sessão seguinte só se realizou no dia 12 de Novembro e nela nos aparecem pela primeira fez os lagareiros a prestar juramento de que haviam de dar “a quada qual, o seu”, apesar de haver um velho ditado que, tomado à letra, nos autorizaria a por em duvida a promessa:
Acta de 1655.
Aos dose dias domez de novembro de mil eseis sentos esincoenta esinco annos nas pouzadas de mim escrivão parecerão domingos pires mestre e tomé glã lagareiros do lagar de luís de sousa aquém o juiz defora deu juram. do dos Santos avangelhos sob cargo do qual lhe em carregou que bem everdadeiramente servissem oditto offçio dando a quoda qual o seu que eles pometerão easinarão aqui”.
Comentário do autor. A assinatura é de cruz, mas o juramento aos santos evangelhos é que os punha entre a espada e a parede. Se não davam “a quada qual o seu”, lá estaria a consciência a dizer-lhes que por esse caminho ia parar ao inferno. Mas cumpririam realmente o juramento prestado nas mãos do juiz de fora nas pouzadas do escrivão? Quem sabe lá! A maquia sempre foi maquia e o afarimento das panelas que se empregavam então não seria tão rigoroso que não desse ensanchas para tirarem mais uns quartilhos em cada moedora. Cumprissem, porém, ou não, o juramento dos lagareiros continuou pelo mês de Novembro fora. 
Depois das nomeações, no ano de 1655 só se realizou mais uma sessão no dia 29 de Dezembro. Nessa sessão não se passou nada que mereça crónica. Elegeram-se os “quartileiros que hão de tira os quarteis da siza do anno que vem de mil e seis sentos esincoenta e seis “ e mais nada.
E agora, depois de dada uma ideia aproximada do modo de ser da vida municipal naqueles tempos, iremos mais depressa pelos anos fora.
O Albicastrense

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