A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940. A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.
O texto está escrito, tal como publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.
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Comentário do autor: De 1782 a 1786 as actas municipais são uma pobreza franciscana. Não se encontra nelas nada que interesse. Nada, mesmo nada.
Até parece que os vereadores adormeceram por completo e que é o escrivão da Câmara que por sua conta e risco vai enchendo paginas e paginas com perfeitas banalidades.
Mas em 27 de Maio de 1786 aparece coisa que enche as medidas a nos mostra bem que já então, em se tratando de apanhar mais uns vinténs de ordenado, todos se julgam com direitos a receber mais, todos se julgam insuficientes remunerados.
Na indicada sessão, a Câmara descobriu que havia um medico que durante mais de quarenta anos tinha prestado relevantes serviços á cidade e seu termo. Esse médico era o Dr. António Tomaz das Neves. Importava dar-lhe uma prova de que se lhe reconheciam os méritos e os serviços. Mas como? Criando mais um partido médico na cidade, provendo nele o benemérito e dando-lhe de ordenado cento e vinte mil reis em vez dos quarenta mil reis que até ai se davam. Triplicava-se o ordenado até ai marcado, para que se soubesse que a Câmara não era unhas-de-fome. Mas logo outro médico, o Dr. João Antunes Pelejão, entendeu que o sol não devia alumiar só o colega, e por isso apareceu a requerer que se lhe elevasse o ordenado a cento e quarenta mil reis, mais vinte mil reis do que o que se dava ao benemérito. Não apanhou os cento e quarenta, mas para o calarem tiveram de dar-lhe os cento e vinte. Mas o comer e o ralhar está no principiar. Tratando-se de receber mais alguma coisa, logo apareceu mais quem quizesse
O escrivão da Câmara, alegando serviços extraordinários, que tinha posta em ordem o arquivo municipal que os seus antecessores tinham deixado numa desgraça, que tinha de escriturar mais uns tantos livros por causa das exigências da Intendência Geral da Policia a respeito dos enjeitados e outras miudezas, que fazia só por si tudo e mais alguma coisa, pediu também aumento de vencimento. Estava aberta a torneira das graças e por isso o escrivão também apanhou uma gratificação de trinta mil reis.
Foi talvez por isso que ele se meteu a escrever coisas de assombrar, numa caligrafia tão “manhosa” que nos faz ver as estrelas para perceber o que ela queria dizer na sua. E o carcereiro também apanhou. E, se mais mundo houvera, lá chegara…
Até parece que os vereadores adormeceram por completo e que é o escrivão da Câmara que por sua conta e risco vai enchendo paginas e paginas com perfeitas banalidades.
Mas em 27 de Maio de 1786 aparece coisa que enche as medidas a nos mostra bem que já então, em se tratando de apanhar mais uns vinténs de ordenado, todos se julgam com direitos a receber mais, todos se julgam insuficientes remunerados.
Na indicada sessão, a Câmara descobriu que havia um medico que durante mais de quarenta anos tinha prestado relevantes serviços á cidade e seu termo. Esse médico era o Dr. António Tomaz das Neves. Importava dar-lhe uma prova de que se lhe reconheciam os méritos e os serviços. Mas como? Criando mais um partido médico na cidade, provendo nele o benemérito e dando-lhe de ordenado cento e vinte mil reis em vez dos quarenta mil reis que até ai se davam. Triplicava-se o ordenado até ai marcado, para que se soubesse que a Câmara não era unhas-de-fome. Mas logo outro médico, o Dr. João Antunes Pelejão, entendeu que o sol não devia alumiar só o colega, e por isso apareceu a requerer que se lhe elevasse o ordenado a cento e quarenta mil reis, mais vinte mil reis do que o que se dava ao benemérito. Não apanhou os cento e quarenta, mas para o calarem tiveram de dar-lhe os cento e vinte. Mas o comer e o ralhar está no principiar. Tratando-se de receber mais alguma coisa, logo apareceu mais quem quizesse
O escrivão da Câmara, alegando serviços extraordinários, que tinha posta em ordem o arquivo municipal que os seus antecessores tinham deixado numa desgraça, que tinha de escriturar mais uns tantos livros por causa das exigências da Intendência Geral da Policia a respeito dos enjeitados e outras miudezas, que fazia só por si tudo e mais alguma coisa, pediu também aumento de vencimento. Estava aberta a torneira das graças e por isso o escrivão também apanhou uma gratificação de trinta mil reis.
Foi talvez por isso que ele se meteu a escrever coisas de assombrar, numa caligrafia tão “manhosa” que nos faz ver as estrelas para perceber o que ela queria dizer na sua. E o carcereiro também apanhou. E, se mais mundo houvera, lá chegara…
(Continua)
Ps – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937. Modificar, emendar ou alterar estes artigos seria na minha perspectiva um insulto ao seu autor.
O Albicastrense
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