sexta-feira, dezembro 04, 2009

EFEMÉRIDES MUNICIPAIS - XXV


A rubrica Efemérides Municipais foi publicada entre Janeiro de 1936 e Março de 1937, no jornal “A Era Nova”. Transitou para o Jornal “A Beira Baixa” em Abril de 1937, e ali foi publicada até Dezembro de 1940.
A mudança de um para outro jornal deu-se derivada à extinção do primeiro. António Ribeiro Cardoso, “ARC” foi o autor desde belíssimo trabalho de investigação, que lhe deve ter tirado o sono, muitas e muitas vezes.
O texto está escrito, tal como publicado em 1937.
Os comentários do autor estão aqui na sua totalidade.

Comentários do autor: Na sessão que se segui à de 15 de Outubro de 1786 a que fizemos referencia no capítulo antecedente, realizou-se precisamente um mês depois daquela, em 15 de Novembro e apesar de tão largo intervalo, não há nesta nada, absolutamente nada, que interesse. Parece poder depreender-se de que a vida municipal ia em manifesta decadência. E os vereadores, vamos lá, também não estavam para se ralar muito. Em sessão de 17 de Dezembro aparece um requerimento da Madre Abadessa e mais religiosas do convento de S. Francisco da Vila de S. Vicente da Beira pedindo o seguinte:

Acta de1786:“a Sua Magestade hum real de agoa em toda a comarca por sinco annos parar reparar as ruinas do seu convento a exemplo de outro real de agoa que por sinco annos lhe consedeo o Senhor Rey Dom José que Santa Gloria haja no anno de 1754 sobre cujo requerimento manda Sua Magestade ouvir esta Câmara Nobreza e Povo....”

Comentário do autor: A Câmara, com o apoio unanimo da Nobreza e do Povo, achou que o auxílio era preciso porque este convento; “ era o único que havia não só nesta Comarca mas ainda em toda a extensão que decorre desde Gouveia até Abrantes e que não tendo este convento meios para se reparar das suas ruínas por ser notória a sua pobreza hera de interesse de toda a Comarca a sua conservação e reparo ”.
Mas, se isso era verdade, também era verdade que isso do real de água tinha que se lhe dissesse, “porque faria uma notável alteração nos viveres sujeitos a este tributo ” e com coisas de víveres não se podia brincar. O que podia fazer-se era dividir a importância em que fossem orçadas as obras por todos os concelhos da comarca, pagando-se com “os sobejos do Concelho ou do Povo”, em três, quatro ou cinco anos. Muita pena das pobrezinhas Irmãs do Convento de S. Francisco, mas dinheiro era sangue, especialmente quando se tratava do pão-nosso de cada dia, dos viveres, e então que se arranjassem lá com os “ sobejos do Conselho ou do Povo ”.
E assim pensaram todos, incluindo o Sr. José Agostinho Pancas, que é o primeiro a assinar a acta.
Até 2 de Abril de 1787 não aparece nada que jeito tenha. As sessões da Câmara são raras e nestas não aparece uma deliberação que tenha sombra de interesse. Em sessão realizada nesta data, porem, aparece-nos de novo a Câmara a lançar uma finta para acudir á necessidade de pagar às amas dos expostos e é outra vez á freguesia de Monforte que se exige a maior quantia.
Monforte tem de pagar 80.000 réis, ao passo que a cidade paga apenas 30.000 réis.
É com certeza a história do Chaparral que provoca esta diferença. Em 7 de Abril aparece a carta régia com a nomeação dos novos vereadores e do procurador do concelho. Os vereadores eram Francisco da Fonseca Coutinho e Castro João de Mendonça Valadares e Manuel Vaz Nunes Preto da Castillo; o procurador do concelho era o Dr. José Esteves Póvos.
A nomeação desta vez aparecia com notável atraso. Costumava a carta régia vir em princípio de Janeiro; veio desta vez três meses mais tarde.
Os novos vereadores, pelo que se pode desprender-se da pobreza das actas, não vinham com grande vontade de trabalhar. Durante o primeiro mês não fazem nada que se veja. Em sessão de 23 de Maio, porem, aparece coisa seria. Os arrematantes da carne de vaca apareceram a dizer mal da sua vida e a pedir que lhes acudissem. Tinham arrematado o fornecimento desta carne a 30 réis o arrátel, mas estavam a perder um dinheirão.
E o caso era sério a valer, porque antes de eles começarem com o fornecimento apenas se chegava a matar duas reses e na altura em que se encontravam chegavam a ser obrigados a matar cinco e seis ”por todas quererem vaca por ser pelo preço da carne meuda”; pediam por isso que lhes valessem, permitindo-lhes elevar o preço.
A câmara, ponderando que os arrematantes se tinham sempre portado bem, ao contrario do que tinha acontecido com os arrematantes que os tinham precedido, com os quais as questões eram o pão-nosso de cada dia, e considerando que já havia exemplos de alteração de preços da arrematação, foi generosa: consentiu na elevação do preço da carne de vaca de 30 réis para 35 réis.
Eram 5 réis de aumento em cada arrátel, o que representava qualquer coisa como o agravamento do preço em cerca de 17 por cento.

(Continua)
Ps – Mais uma vez informe os leitores dos postes, “Efemérides Municipais” que o que acabou de ler é uma transcrição fiel do que saiu em 1937.

O Albicastrense

1 comentário:

  1. Em 1786, a vida municipal ia em manifesta decadência, a camara era apática e os novos vereadores não tinham grande vontade de trabalhar.
    Mas a Madre Abadessa e mais religiosas do convento de S. Francisco da Vila de S. Vicente da Beira pediu a recuperação das ruinas do convento....

    223 anos depois, o primeiro paragrafo mantêm-se, o segundo, sou eu que peço ao nosso presidente,(agora presidente da FICAM) que faça uma dinamização do centro histórico coerente, pois não tem nenhum sentido conservar um edificio, sem referir a sua área circundante, ou o contrário.

    E o turismo tem de ser encarado como propulsionador na preservação do património, e assim sendo, tem de se apostar neste sector, que apesar de acarretar alguns problemas, traz mais beneficios, MAs não estamos para aí virados...É mais giro aparecer nos jornais e dizer que (por unanimidade, não se sabe de quem) foi-se eleito presidente de algo que deixa muito a desejar nesta cidade...

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