(UMA NOTÍCIA DE SE LHE TIRAR O CHAPÉU)
MORREU NESTA CIDADE UMA MULHER QUE,
MORREU NESTA CIDADE UMA MULHER QUE,
ANOS
ANTES, SE ERGUEU DO CAIXÃO A TEMPO DE
NÃO SER
ENTERRADA VIVA.
O
jornal “Reconquista” publicou na sua
edição de 3 de Maio de 1959, a noticia que vai ler a seguir:
Faleceu
há poucos dias, numa casinha do bairro do castelo, rodeada de filhos e netos,
uma octogenária, de seu nome, Josefa Correia, mas conhecida só por Ana do
Ninho.
Teve
vinte filhos do seu único marido, sendo vivos apenas quatro á data do seu
falecimento. Deixou dezanove netos.
Pois
esta mulher, há quarenta anos, tendo dado entrada no Hospital desta cidade, foi
pouco depois de ali estar “declarada
morta”.
Seguiram-se
os trémitos habituais: dobre de sinos, cadáver colocado no esquife hospitalar,
de pés atados, e transportado para a capela.
Ninguém
durante a noite a velar o cadáver os cirios, em redor, ardendo piedosamente.
Já de
manhã, o cadáver, talvez cansado posição e do frio da noite de inverno, só com
um lençol a cobri-lo, tentou voltar-se para um dos lados, mas bateu com a
cabeça na dura madeira do caixão hospitalar, e… sentou-se, calmamente, desapertou a fita que lhe unia os pés, saiu da tumba,
enrolou os lençóis, que levou consigo, ajoelhou para rezar, e partiu como uma
sombra, a caminho de casa, onde os filhos a receberam aos gritos, como uma
estranha e fantasmagórica aparição.
E
enterro estava marcado para essa manhã à hora em que ela, por um triz livre de
ser enterrada viva, recomeçava, com serenidade impressionante, e rezando
baixinho, a vida doméstica, outros quarenta anos de vida dura. Teve ainda mais
filhos.
O Albicastrense
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